Talasnicos

 

GUIA DE VIAGEM PARA UM PASSEIO DE 1 DIA PELAS ALDEIAS DE XISTO DA SERRA DA LOUSÃ - GONDRAMAZ, TALASNAL, CHIQUEIRO, CERDEIRA, CASAL NOVO , CANDAL, FRAGAS DE SÃO SIMÃO, PENEDO FURADO
          (Roteiro de 1 Dia)


O aparecimento de uma das maiores pandemias das últimas décadas, o Covid-19, impediu a sociedade de viajar entre Março e Junho de 2020 e como tal, assim que foi possível passear, lá fomos nós percorrer mais um caminho, viver mais uma aventura e procurar mais um cantinho do nosso maravilhoso Portugal. Desta vez o destino escolhido foi a encantadora e silenciosa Serra da Lousã, com as suas envolventes paisagens e as suas históricas Aldeias de Xisto.

Despertador para as 4h30 da manhã com saída de Lisboa às 5h00. Quando programamos um passeio já estou habituada, embora mal encarada, a que o homem se levante de madrugada, diz ele, que é uma forma de aproveitar o dia ao máximo. Eu cheia de sono e a reclamar pela alvorada, ele sempre com um sorriso nos lábios, e lá vamos nós no trator a cair de podre, que mais uma vez não nos deixou ficar mal e chegou ao destino e voltou para Lisboa, foi só meter gasóleo. 

Partimos de Lisboa pela A1, A23 e A13 até à Serra da Lousã (204km). Esta serra tem 1205 metros de altitude no seu ponto mais alto e situa-se na transição do Distrito de Coimbra e de Leiria. Abrange os Concelhos de Lousã, Góis, Castanheira de Pera, Miranda do Corvo e Figueiró dos Vinhos. É uma serra xistosa, da época pré-câmbrica.

Como só planeamos o passeio para um dia, só nos foi possível visitar a Lousã, as suas paisagens envolventes e algumas das suas Aldeias de Xisto, numa vertente mais cultural. 

São 12 pequenas aldeias onde predomina o xisto e o quartzito, retratando um pedaço de história perdida no tempo. Cada uma das aldeias tem uma história para contar, um segredo escondido, o que nos transmite a sensação de termos regressado no tempo.

As Aldeias de Xisto da Lousã são: Aigra Nova, Aigra Velha, Candal, Casal de São Simão, Cerdeira, Chiqueiro, Comareira, Ferreira de São João, Gondramaz, Pena e Talasnal.

Apesar das aldeias não serem muito distantes umas das outras, são em serra sinuosa o que torna o tempo de viagem prolongado, mas compensado pelas gratificantes paisagens da imponente Serra da Lousã.


A melhor altura para fazer uma viagem deste género é no Verão, pois os dias têm maior duração. Apesar de ser Julho e serem 8h00 da manhã, quando nos aproximamos da Serra fomos contemplados por ondas de nevoeiro que a cobriam totalmente e nos condicionou a visibilidade nos primeiros miradouros. 

Se fizer a viagem na Primavera, vai presenciar uma Serra cheia de cores, com as suas flores, com pequenas ribeiras e cascatas com a água que o Inverno deixou. 

Se optar por fazer a viagem no Outono, será contemplado por uma Serra pintada de verde, amarelo, castanho e pode ter a sorte de observar o comportamento dos veados, pois é nesta altura que se dá o acasalamento.

Se escolher o Inverno para a sua viagem, o melhor é ir prevenido com um chapéu de chuva e um impermeável, o nevoeiro é  bastante serrado o que vai dificultar apreciar as paisagens da Serra da Lousã.  Por outro lado, se quiser aproveitar um fim de semana para descansar ou namorar, pode desfrutar de um alojamento local numa das Aldeias de Xisto, onde pode apreciar um copo de vinho acompanhado pelo calor da lareira. 

Quem procura a Serra da Lousã e for amante de caminhadas e trails pode fazer percursos pedestres nas várias Aldeias de Xisto da Lousã, todos eles devidamente sinalizados. Nós não fizemos nenhum, porque o tempo era escasso e eu não sou amante desse tipo de desporto.

Outra informação importante e que deve ter em conta é descarregar os mapas offline, tendo em conta que se encontra numa serra e o sinal GPRS é muito fraco ou quase inexistente. Nós usamos do Google maps, mas pode usar outro ao seu gosto.

Uma vez na Serra e depois do denso nevoeiro que nos recebeu de braços abertos, tiramos a fotografia na conhecida moldura da Lousã  "Isto é Lousã ". Não vimos nada, mas temos a fotografia e lá estou eu a olhar e a sorrir para o Homem, como se tivesse um lindo dia de sol e uma paisagem deslumbrante à nossa volta. Até poderia estar, mas na dúvida fica a foto para recordação. 

Continuando o nosso caminho, seguimos para a nossa primeira Aldeia de Xisto, Gondramaz, a poucos quilometros de Miranda do Corvo, uma pequena aldeia de montanha, que outrora dependia da agricultura e pastorícia. Atualmente poucos são os habitantes residentes e é considerada a aldeia dos artesãos, criando figuras carismáticas que são marcadas pela serra. Nesta aldeia encontramos estreitas ruelas bem conservadas e com nomes muito engraçados, casas bem recuperadas em xisto, que hoje são utilizadas para turismo rural.  Talvez por serem as primeiras horas do dia a aldeia encontrava-se deserta.

Desculpem, não é verdade! Os habitantes da aldeia eram gatos e mais gatos e um ou dois cães. Nem comercio, nem um café (que já se bebia)! Apenas alojamento local diferenciado. 

Tanto nesta aldeia como nas próximas aldeias, existem vários percursos pedestres / trilhos para quem estiver interessado.

Haja sossego!!!! 

Saindo de Gondramaz e seguindo pela estrada nacional N236 seguimos em direção ao Talasnal, a maior Aldeia de Xisto, a mais turística e com mais habitantes da Serra da Lousã. Para mim, sem dúvida o "ex libris" das Aldeias de Xisto pela simpatia dos aldeões, pelas estreitas ruelas conservadas, pelo turismo e pelos famosos e conhecidos bolos, os talaniscos, onde predomina uma mistura de mel e castanha. É sem dúvida uma viagem no tempo. Nesta aldeia pode visitar os lagares de azeite, a fonte e o tanque da aldeia, a taberna que recria a história desta aldeia, tornando-se intemporal e as pequenas lojinhas de artesanato. Se for amante da natureza e das caminhadas pode encontrar mais um percurso pedestre. 



Saindo de Talasnal com direção a Chiqueiro paramos no Miradouro Talasnal Montanhas de Amor, um miradouro com uma vista encantadora sobre a pequena aldeia do Talasnal. 



Chiqueiro, é uma aldeia delimitada por dois cursos de água e rodeada por muita vegetação. É uma aldeia semelhante a Gondramaz e mais uma vez, deserta e com algumas casas em ruínas. Esta aldeia tem menos turismo de natureza do que as anteriores, mas apesar de tudo, encontramos duas pessoas a correr que penso que deviam estar a fazer um dos trilhos sinalizados na aldeia. 



Desta aldeia a Casal Novo, é possível ir a pé por dentro de uma densa floresta, o percurso é de aproximadamente 1 km. Nós fomos visitar Casal Novo de carro, outra aldeia semelhante às anteriores, situada numa encosta de declive acentuado, com casas em xisto contruídas em pequenas ruelas. Aqui encontramos um café / restaurante, o que leva a um aumento do turismo. Da eira da aldeia é possível avistar a vila da Lousã e o seu Castelo, o Castelo de Arouce. É possível visitar as Fragas de São Simão percorrendo um pequeno trilho, cerca de 500 metros, entre Casal Novo e as Fragas. São montanhas quartziticas onde passa a Ribeira de Alge, terminando numa das mais belas praias fluviais de toda a região.  No Verão, é uma praia muito procurada pela sua beleza natural, com a sua vegetação exuberante, rodeada de montanhas quartziticas e pelos passadiços das Fragas de São Simão, com pouco mais de 1 km ou 2 km ida e volta.




De volta à estrada seguimos até à Praia Fluvial de Nossa Senhora da Piedade. É um dos locais mais emblemáticos da Serra da Lousã, com a sua praia fluvial, o famoso restaurante o Burgos, com comida caseira e regional (nós não provámos, porque o Homem diz que é uma perda de quilómetros e de tempo, estarmos sentados num restaurante, e como tal, leva sempre a sua geleira elétrica, carregada de comida e bebida). Na praia fluvial também vai encontrar uma cascata e um baloiço artesanal, que se encontra suspenso num tronco de uma árvore. É o cenário ideal para se sentar e tirar uma fotografia pois a imagem de fundo é a cascata da ribeira de São João, o que torna o momento épico. Atenção que mesmo no Verão as águas são frias.



É sem dúvida um grande momento para tirar fotografias ou selfies. Nós tivemos de esperar porque estava um grupo de jovens a tirar selfies e mais selfies, com o telemóvel quase dentro de água e sem se preocuparem da fila que estavam a criar. Enfim!! já a minha avózinha dizia: a educação começa em casa.


A aldeia seguinte foi o "ex libris" do Homem, Cerdeira, uma aldeia que para lá chegar temos de vaguear numa estrada estreita e sinuosa, sempre a subir. Para chegar ao centro da aldeia é preciso fazer uma curta e agradável caminhada de cerca de 200 metros e atravessar uma pequena ponte. Á entrada da aldeia encontramos uma pequena fonte, onde se pode beber água. Esta aldeia situa-se num vale encantado, com pouco mais de vinte casas, todas elas restauradas para o turismo rural. Foi recuperada no âmbito de um projeto artístico e criativo de artes, através do projeto Cerdeira - Home for Creativity. É palco de retiros e workshops, servindo de inspiração para quem visita esta remota aldeia.
Aqui podemos encontrar um café / restaurante, uma galeria de arte e uma biblioteca, que não visitamos porque se encontravam encerrados.  
No miradouro antes de chegar a Cerdeira, a vista para a aldeia é soberba e de cortar a respiração. O sossego, o chilrear dos passarinhos, o barulho da água do pequeno ribeiro é sem dúvida encantador. Foi neste contexto que o Homem tirou a geleira do carro e bricolamos as sandochas, regadas de umas jolas.
Por vezes procuramos um local assim , por outras vezes somos surpreendidos por tamanha beleza. 
Onde nos podemos desligar do mundo, esquecermos tudo, e estarmos apenas nós, connosco mesmo. Cerdeira é tudo isto e talvez por essa razão o Homem ficou "stunning"...



De Cerdeira ao Candal é um pulinho através de uma caminhada pelo trilho PR3 - Rota da Levada ou de carro. Nós fomos de carro pois não estávamos preparados para fazer um trilho. Uma vez no Candal, não deixe de visitar os 5 moinhos de água, os lagares do azeite e o chafariz. É uma das aldeias mais visitadas, com as suas ruas inclinadas.




Uma vez na Serra da Lousã, não deixe de visitar os passadiços da Ribeira das Quelhas, que é um percurso exigente, sempre a subir, com aproximadamente 1,2 km, ou 2,4 km ida e volta. É uma escadaria de madeira, com vários degraus, com uma vista sobre a serra e uma paisagem bastante árida. A ribeira das quelhas termina numa cascata, que talvez por ser Verão, tem pouca água e posso mesmo dizer, que foi uma desilusão.



Continuando o nosso percurso, foi altura de tirar a fotografia no local mais conhecido e mais famoso, o "ex libris" da Lousã, o Alto do Trevim ou o Baloiço da Lousã, a 1200 metros de altitude, com uma vista fenomenal sobre toda a Serra da Lousã. Quando lá chegamos sem surpresas, deparamos com uma pequena fila e aguardamos a nossa vez para tirar a fotografia. É sem dúvida o local mais emblemático da Serra da Lousã. É a melhor forma de nos despedirmos desta Serra. Sente-se, respire e aproveite o momento e a vista sobre a Serra. Dizem que contemplar o pôr do sol deste baloiço é verdadeiramente mágico, mas nós não tivemos essa oportunidade, ficará sem dúvida para outra altura.

Uma vez abandonada a Serra da Lousã, seguindo por uma estrada de terra batida, com alguns buracos terá a oportunidade de visitar a impressionante Garganta do Cabril do Ceira, que é o resultado das águas do Rio Ceira com as montanhas quartziticas da região, criando um vale em garganta, com a sua praia fluvial, uma espécie de piscina natural, que permite nadar na garganta ou então saltar das fragas de quartzito para o rio. Local excelente para dar um mergulho, e eu lá fui. A água é fria mas muito límpida, com várias pedras de todo o tamanho no fundo e peixinhos a nadar ao nosso lado. É simplesmente mágico!



A nossa última paragem foi no Miradouro do Penedo Furado, Concelho de Vila de Rei, onde é possível admirar serras, montanhas com a sua vegetação exuberante e a sua praia fluvial, com a sua ribeira. Abaixo do miradouro existe um fóssil com mais de 480 milhões de anos, denominado "Bicha Pintada". 


Uma vez na Praia Fluvial do Penedo Furado, é possível fazer uma curta caminhada pelos recentes passadiços, onde pode desfrutar da beleza da paisagem e de várias pequenas quedas de água que vai encontrar durante o percurso. Esta praia é bastante procurada por campistas e por famílias, devido ao sossego e à segurança da pouca profundidade das suas águas. Da história do Penedo Furado fazem parte mitos e lendas que a população passou de geração em geração, o que torna este local místico. 




O tempo urge e está na hora de voltar para casa...
Outra viagem irá surgir...
Outro caminho iremos percorrer...
o momento somos nós que o decidimos...
a história somos nós que a fazemos...
com a certeza que iremos voltar...


Até um dia Lousã...






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