GUIA DE VIAGEM PARA VAGUEAR PELAS PLANÍCIES E MONTADOS ALENTEJANOS
(Roteiro de 2 Dias)
Alto Alentejo, uma província histórica de Portugal, constituída por 29 concelhos, integrando todo o distrito de Évora e quase todo o de Portalegre, com as suas planícies e montados alentejanos e a maior serra a sul do Tejo, a Serra de São Mamede, com 1025 metros de altitude.
O Alto Alentejo é uma região carregada de história, costumes, tradições, com uma gastronomia muito própria, a açorda, as migas com entrecosto, a carne de porco alentejana, o ensopado de borrego, o cozido de grão, o gaspacho e os seus doces conventuais. Os Mosteiros e Conventos guardavam segredos das receitas da doçaria conventual, mas com a extinção das Ordens Religiosas, estas receitas foram descobertas e atualmente fazem a delicia de pequenos e graúdos e podem ser apreciadas por toda a região, são exemplo: a Encharcada de Santa Clara, a Sericaia com as ameixas de Elvas, o Bolo de Mel de Santa Helena, o Bolo Podre, o Pão de Rala, o Bolo Fidalgo.
Não existe melhor época do ano para descobrir os encantos do Alto Alentejo, é uma viagem que pode ser feita em qualquer altura, a escolha será sempre do viajante e daquilo que pretende desfrutar com esse caminho.
1º Dia - Lisboa, Mora, Évoramonte, Estremoz, Elvas, Serra de São Mamede, Marvão, Castelo de Vide, Portalegre (350 km)
Saída das Renas às 8h30 da manhã sem grandes expectativas para esta roadtrip, nem eu nem o Homem. Nem sempre os dias nos correm da melhor forma e não tínhamos detalhado a nossa viagem, não tínhamos planeado este caminho arrufado, tal como o Homem gosta, o único destino era o Fluviário de Mora e os Passadiços do Gameiro, o resto foi improvisado no momento, mas confesso que valeu a pena, vale sempre a pena viajar e descobrir os encantos do nosso país. Viajar faz-nos abrir horizontes, faz-nos crescer enquanto pessoas.
Atenção que o fluviário não fica mesmo em Mora, mas existem várias placas indicativas ou pode sempre colocar no google maps, que para nós é sempre a melhor opção.
Chegámos ao fluviário às 10h30 e fomos fazer os Passadiços do Gameiro que fica mesmo ao lado do fluviário. Estes passadiços ficam localizados no Parque Ecológico do Gameiro e são de fácil acesso para crianças ou pessoas com dificuldades motoras, têm uma extensão de 1,4 km (cerca de, 3km ida e volta), com inicio na Praia Fluvial do Gameiro.
Durante todo o percurso encontra informação sobre a fauna e flora da região e pode observar os pássaros num birdwatching a 400 metros fora do trilho. É um percurso banhado de uma beleza única, e digo banhado porque o percurso é sempre junto ao Rio Raia. Para quem é mais aventureiro, no final dos passadiços de madeira, com pouco desnível, pode continuar o trilho por um percurso pedonal circular com cerca de 5,5 km de extensão, continuando por um trilho de terra batida junto ao rio e passando por montados alentejanos.
Deixando os passadiços para trás é hora de visitar o Fluviário de Mora, um aquário dedicado aos ecossistemas de água doce. Este espaço é constituído por vários aquários com vários peixes exemplificativos de todo o percurso do rio, desde a nascente à foz, um lontrário, onde pode observar a alimentação das lontras às 12h45 ou às 16h45, um auditório, uma sala de aula e alguns habitats exóticos. Foi inaugurado em Março de 2007 e o valor da entrada são 7,20€ para um adulto e 4,90€ para criança ou sénior. Na nossa opinião é um pouco caro para a experiência. Sem dúvida, é um espaço bastante agradável, bem conservado e com muita informação sobre a fauna e a flora que vai variando ao longo de todo o curso do rio, até chegar ao mar, mas é um espaço pequeno e confesso que as nossas expectativas eram maiores, uma vez que não contempla todas as espécies que podemos observar num contexto real de um rio, nomeadamente, a ameijoa e minhoca do rio.
Saindo de Mora fomos em direção a Évoramonte para visitar o seu imponente castelo, uma fortificação do estilo italiano. É uma pacata vila localizada no alto de uma montanha, com mais de sete séculos de história e com um vasto património arquitetónico. Para visitar o Castelo tem de pagar 2€, mas vale a pena pelas vistas panorâmicas que são soberbas. Atualmente quase todos os castelo são pagos e variam entre 2€ e 3,5€ por adulto (atenção aos horários, porque muitos fecham à hora de almoço). A cerca medieval foi mandada construir no reinado de D. Dinis, em 1306 e mantem ainda hoje um postigo e as suas quatro portas principais, a Porta do Freixo, a Porta do Sol, a Porta de São Brás e a Porta de São Sebastião. A torre foi construída depois do terramoto de 1531, pelos mestres Diogo e Francisco de Arruda., sofrendo várias modificações.
A próxima paragem foi em Estremoz, considerada a "cidade branca" do Alentejo, pelo seu casario pintado de branco, ao longo de uma colina e pelas jázidas de mármore branco. Estremoz contribui com cerca de 90% de mármore para exportação, o que levou a Portugal ser considerado o segundo maior exportador do mundo. Esta cidade foi palco de grandes acontecimentos históricos, onde se deram grandes batalhas de enorme importância para a história de Portugal, a Batalha do Ameixial e a Batalha dos Montes Claros. A cidade é dividida em duas zonas, a "vila nova" onde existe o casario e o comércio e a "cidade velha" onde se encontra o Castelo, contruído no reinado de D. Dinis, no século XIII, que atualmente é uma Pousada de Portugal. A melhor forma para descobrir os encantos desta parte da cidade é a pé. Do miradouro junto ao castelo é possível através de um binóculo, visualizar com clareza o castelo de Évoramonte.
Elvas foi a nossa próxima paragem, outra cidade com um enorme património histórico. À chegada à cidade somos contemplados por um imponente Aqueduto da Amoreira com 7 km e 843 arcos, que é um dos legados históricos mais importantes desta cidade, mas Elvas tem muito mais para explorar, ou não fosse a maior cidade fortaleza do mundo, fruto das suas maiores fortificações, cujas estruturas defensivas formam uma estrela, com um perímetro de cerca de 10 km.
Esta cidade foi palco de importantes batalhas contra Espanha, numa luta durante séculos pela independência de Portugal, em meados do séc XVII e durante as Invasões Napoleónicas no inicio do séc XIX. As fortificações em 2012 foram consideradas pela UNESCO património mundial, são exemplo o Forte de Santa Luzia, o Forte da Graça e 3 fortins do séc XIX; São Mamede, São Pedro e São Domingos. O Castelo situa-se na parte mais antiga da cidade. Para além do património histórico e arquitetónico, Elvas também tem um vasto património religioso, com as suas igrejas, ermidas e conventos.
Vai certamente perder-se nesta cidade e não digo perder no verdadeiro sentido da palavra, mas sim perder-se de encantos e com vontade de voltar. Foi nesta magnifica cidade que degustamos da nossa refeição. Quem já leu alguns dos nossos caminhos arrufados, já sabe como são os nossos almoços, sempre com as melhores paisagens como cenário de fundo. Não, não foi o que aconteceu desta vez! Procuramos um lugar emblemático para tirar a geleira do carro e degustar a nossa refeição, mas tivemos alguma dificuldade em encontrar um lugar sombrio e com uma vista agradável e escolhemos uma zona mais tranquila da cidade, com várias árvores a fazerem-nos companhia. Diferente, mas também agradável.
De barriguinha cheia foi hora de percorrer os 8 km que nos separam do país vizinho e ir a Badajoz. Mais uma cidade para escrever??? Não, desta vez desengane-se, quem sabe de uma próxima eu escreva sobre Badajoz. Só fomos ao país vizinho atestar o carro de combustível porque ainda é mais barato. :)
De regresso ao nosso país fomos procurar as emblemáticas cascatas da Serra de São Mamede, distrito de Portalegre. Nesta serra, as planícies e os montados alentejanos dão lugar a pequenos vales, ribeiras e cascatas. Para encontrar algumas destas cascatas é preciso ter algum espirito de aventura e alguma preparação física, os acessos nem sempre são os melhores, mas como o Homem costuma dizer: "as melhores paisagens ficam sempre em lugares inacessíveis e arrufados"
Existem várias cascatas, como é o caso da Cascata de São Julião, Cascata da Ribeira dos Arronches, mas nós só fomos à Cascata do Pego do Inferno, não confundir com a do Algarve, que fica perto de Tavira. Esta cascata é um pequeno paraíso formando várias lagoas que no Verão é possível ir a banhos. Fica bem perto da estrada, onde deve estacionar o carro e fazer um pequeno trilho de dificuldade média, de terra batida, no meio do arvoredo e a finalizar com algumas rochas antes de chegar às lagoas. Esta cascata é alimentada pela Ribeira de Arronches. A Vanessa foi a banhos e teria sido ainda mais fantástico se não tivesse recheada de gente. Para lá chegar se vier de Portalegre deve seguir a N246-2 e a cascata fica um pouco antes de chegar à localidade de Mosteiros.
Continuando pela nacional fomos em direção a Marvão, sem antes passar pelo Alto da Serra de São Mamede, um miradouro que fica a 1025 metros de altitude. A Serra de São Mamede é a serra mais alta a sul do Rio Tejo e este miradouro tem uma vista de cortar a respiração, onde é possível avistar a vila de Castelo de Vide, a vila de Marvão, a Serra da Estrela e a Serra da Gardunha. Com estas vistas panorâmicas o Homem satisfez mais um dos seus desejos, visitar mais uma serra de Portugal, não entendo o quanto ele gosta de ir às Serras!!
Para chegar ao miradouro não é fácil e tem de seguir a estrada que vai na direção de Ribeira de Arronches, quando vir muitas antenas, está na direção certa e quase a chegar. Atenção que não existem placas indicativas!
Com o dia a chegar ao fim fizemos uma paragem na bonita vila de Marvão, considerada a pérola do Alto Alentejo. Visitar esta bonita vila tem de ser a pé, passamos as Portas de Rodão, uma das principais entradas desta vila medieval e deixamos o carro estacionado, calcorreamos as estreitas ruelas com as suas casinhas brancas e amarelas, com varandas de ferro forjado e fomos visitar o castelo, que fica a 800 metros de altitude. Saramago disse que do alto do Castelo de Marvão se pode contemplar o mais belo pôr do sol do Alentejo. Nós não tivemos esse privilégio por ainda ser dia e o nosso tempo é sempre escasso com quilómetros para fazer, mas fomos maravilhados por uma vista assoberbada da Serra de São Mamede. Uma vila onde certamente iremos voltar.
Voltando à estrada fizemos uma breve paragem em Castelo De Vide, que percorremos de carro as suas íngremes subidas e as suas estreitas ruelas, com o casario branco e fachadas amarelas, tão características desta região do Alentejo.
Como o tempo era escasso aproveitamos para comprar água numa pequena mercearia de bairro com a certeza de um dia ir visitar esta pequena e apaixonante vila.
Já era quase de noite e estava na altura de procurarmos alojamento em Portalegre. Castelo de Vide considerada a Sintra do Alentejo, ficará para outras núpcias.
Ao chegar a Portalegre avistam-se à distância as duas chaminés da antiga Fábrica da Cortiça que agora integra o Museu Robinson - Núcleo da Igreja do Convento de São Francisco do séc XIII. É uma cidade que apresenta alguns vestígios das muralhas da fortificação do séc XIII, a sua Catedral do séc XVI que se encontra em restauração e confesso que bem estava a precisar, a Casa Museu do poeta José Régio que se encontrava encerrada, o seu Castelo medieval e gótico, onde se destaca a Torre de Menagem. Outro museu que nos indicaram foi o Museu de Tapeçaria, mas que infelizmente estava encerrado. Aqui pode encontrar as verdadeiras obras primas da tapeçaria desta região.
Uma vez nesta cidade, foi difícil encontrar um hotel, a cidade estava cheia de turistas, o que é certamente bom para a economia do país. Ficamos alojados numa Guest House com casa de banho privativa e pequeno almoço, podia ter sido melhor, mas tendo em conta que estávamos em Agosto e não tínhamos reservado nenhum alojamento não nos podíamos queixar.
Jantar, outro problema, tudo cheio, outros só com reserva, outros encerrados. No google maps lá encontramos uma tasquinha bastante agradável, numa das ruelas, mesmo no centro da cidade. O restaurante "Cavalinho" onde fomos muito bem recebidos tanto pelo proprietário do estabelecimento mas ainda melhor pelo simpático e afável Miguel Ribeiro, um jovem educado e culto, que nos presenteou com uma sugestão fantástica da ementa, açorda para mim, gaspacho para o Homem, seguido de um naco de vitela acompanhado de migas e bem regado com o vinho tinto da casa. Para terminar, uma sericaia com ameixas de elvas e café. Qual foi o nosso espanto quando nos trouxeram uma ginja caseira para mim e uma aguardente para o Homem, oferta da casa. Ah pois é! É assim que se ganham clientes. Voltaremos certamente, pela comida, mas principalmente pela simpatia do Miguel.
2º Dia - Portalegre, Flor de Rosa, Alter do Chão, Nisa, Passadiços de Nisa, Portagem, Barragem de Cedillo, Montalvão, Montargil, Lisboa (450 km)
Alvorada às 8h sem correr atrás do relógio e depois de tomarmos um pequeno almoço bastante aceitável, tendo em conta o valor do alojamento, em direção a Flor da Rosa para visitar o Mosteiro de Santa Maria da Flor da Rosa. É uma pequena aldeia no concelho do Crato, a 22 km de Portalegre, onde é possível visitar a Igreja Matriz e uma parte deste mosteiro medieval da Ordem de Malta, que hoje em dia foi convertido na Pousada do Crato, uma das Pousadas de Portugal mais charmosas do Alto Alentejo. A pousada preservou a arquitetura do mosteiro, como são exemplo os claustros, respeitando as suas origens. A única parte que é possível visitar gratuitamente é a igreja, onde se encontra o túmulo do prior do Crato e tem de ser através do Posto de Turismo que se situa no espaço exterior do mosteiro, tudo o resto pertence à pousada. (atenção aos horários do Posto de Turismo).
A poucos quilómetros do Crato fica Alter do Chão, onde destacamos a Coudelaria de Alter, para quem aprecia a arte equestre não deve perder uma visita a este espaço. Foi criada em 1748 pelo Rei D. João V e é a mais antiga coudelaria Portuguesa e dedica-se à criação do cavalo de sela de puro sangue Lusitano. Neste espaço é possível visitar o centro interpretativo, as cavalariças, o páteo das éguas, a falcoaria e o seu museu. A coudelaria fica a aproximadamente 3 km de Alter do Chão.
Alter do Chão é uma vila calma, que remonta a época romana e na altura chamava-se Abelterium. São vestígios históricos as Termas do Ferragial d"el e a Ponte da Vila Formosa, uma ponte romana que fica a cerca de 20 km, mas nós não visitámos. Apesar da agricultura continuar a ser a principal atividade da vila, a fundação da coudelaria contribuiu para a divulgação desta região.
Vale a pena passear no centro histórico e foi neste contexto que beberricamos um café numa esplanada com vista para o castelo. Normalmente os castelos encontram-se em serras, na parte mais alta da cidade, mas neste caso somos contemplados com um Castelo mesmo no meio do centro desta vila. Mesmo ao lado do castelo encontra-se a Igreja e Antigo Hospital da Misericórdia. Um pouco mais à frente encontra a Igreja Matriz.
Saindo de Alter do Chão, chegou o momento do Homem, visitar a vila de Nisa. Há quem pense que nesta terra só existem queijos, mas Nisa tem muito mais para oferecer, com o seu património histórico e arquitetónico, a sua gente simpática, os seus casarios brancos com uma faixa amarela, as suas estreitas, bonitas e bem conservadas ruelas e muitas fontes, existem pelo menos umas 10 fontes espalhadas por toda a cidade.
Foi habitada pelo homem no período Neolítico e conta a história que a população desenvolveu-se no cimo do Monte de Nossa Senhora da Graça, a partir de um Castro.
Posteriormente, foi povoada por Romanos e daí os seus vestígios romanos, onde atualmente é possível observar as ruínas do Castelo construído no séc XIII, as Portas da Vila e as Portas de Montalvão (eram seis portas mas só restaram estas duas). Não pode perder uma visita à Igreja Matriz do séc. XVI e à Igreja da Misericórdia, bem como calcorrear nas estreitas e bonitas ruelas da vila.
Não deixe de passear pela rua principal coberta de xailes e onde tem o prazer de visualizar as portadas das casas com fotografias de gente antiga.
Ficamos sem perceber se seriam os antigos proprietários das casas, mas se é verdade, foi uma ideia fantástica e passar por ali faz-nos sentir recuar no tempo.
Aqui pode encontrar o núcleo central do Museu do Bordado e do Barro. (atenção aos horários do museu, pois encerra no período de almoço).
Muito próximo da Igreja Matriz encontramos a rua de Santa Maria o "ex libris" da vila, localizada no centro de Nisa,
Uma rua original e pulverizada com água de modo a combater as temperaturas altas que se fazem sentir no Alentejo. Esta rua tem apenas 100 metros, onde o chão é desenhado com pequenas pedras de tijolo a simular o barro e o mármore a fazer os riscos brancos, a imitar o "quartzo", tentando representar a olaria pedrada tão tradicional desta região.
Esta rua vai ser candidata a Património Imaterial da Humanidade.
Não deixe esta bonita vila sem antes visitar o Miradouro da Nossa Senhora da Graça que fica a aproximadamente 3 km de Nisa. Aqui para além de usufruir de uma vista magnífica de 360º, com as suas paisagens de cortar a respiração, existe a Ermida de Nossa Senhora da Graça, uma pequena capela do séc XVI, que é conhecida pela famosa Romaria, que se realiza anualmente na segunda-feira de Páscoa.
Com a hora de almoço a aproximar-se, estava na altura de procurarmos o nosso melhor restaurante, que desta vez foi o meu "ex libris" o Miradouro Transparente do Tejo - o Skywalk com vista sobre o Rio Tejo e a Barragem de Fratel.
Foi nesta bonita paisagem, sempre abraçados pelo Tejo, que foram construídos os Passadiços de Nisa ou mais conhecidos pelo Trilho da Barca da Amieira, um percurso relativamente simples com cerca de 3,6 km de extensão ou 7,2 km ida e volta. Para além de ser uma experiência fantástica, tem a vantagem de não ser paga. Nem tudo o que é belo tem de ser pago!
Se for aventureiro e gostar de percursos pedestres pode fazer este trilho ou o Trilho das Jans (PR1 de Nisa), um trilho circular mais exigente com cerca de
11 km de extensão e inicio em Amieira do Tejo.
Os passadiços de madeira têm inicio neste miradouro e são cerca de 1 km, passando por uma ponte suspensa por cima da Ribeira de Figueiró, por uns baloiços lilases "instagramáveis" e por um observatório de pássaros.
Quando terminam os passadiços de madeira, pode continuar o trilho de terra no histórico muro de sirga com cerca de 2,5 km até à Barca da Amieira. O muro de sirga antigamente era utilizado para os homens transportarem as mercadorias que vinham da navegação fluvial até à Vila Velha de Rodão, onde se situam as Portas de Rodão, uma imponente garganta escavada pelo rio na Serra do Perdigão, uma situação geológica natural localizada nas duas margens do Tejo, criando um estrangulamento da água com 45 metros de largura. Com a construção do caminho de ferro em Abrantes, este muro deixou de ser utilizado.
Uma vez na Barca da Amieira pode fazer um piquenique numa zona de lazer, ou pode passar de carro para a outra margem do Tejo. Esta travessia fazia-se antes da construção da Barragem do Fratel e os barqueiros atravessavam o rio desde Envendos até Amiera do Tejo. Em 2019 os barcos voltaram a funcionar mas com o aparecimento do Covid-19, esta travessia esteve suspensa, tenso sido reaberta este ano com travessias durante o verão, de acordo com as correntes, das descargas da barragem. O serviço efetua-se entre 1 de abril e 31 de outubro entre as 9h30 e as 13h30 e das 14h30 às 16h30. O preço não sabemos porque não fizemos a travessia.
Com tanta conversa sobre os passadiços, esqueci-me de falar do nosso restaurante, que foi neste miradouro com o Tejo a servir de cenário de fundo, no silêncio, apenas ao som dos pássaros que por vezes se avistavam. O Homem tirou a geleira e lá debicamos nós do nosso farnel, sempre com o meu copinho de vinho tinto, ou eu não estivesse de férias e num dos melhores restaurantes da região, com uma vista a perder de vista. Almoço terminado fomos fazer a parte dos passadiços de madeira, não continuamos porque era hora de almoço e estava um calor abrasador, como tal, o restante ficará certamente para outro caminho arrufado.
O Homem é louco pelo Tejo, pelas suas raízes e depois de estar neste miradouro e de descobrir onde o rio entrava em Portugal o que acham que ele quis fazer??? Ir à Barragem de Cedillo, onde o Tejo entra em Portugal. O Rio Tejo nasce na Serra de Albaracim, em Espanha e a foz fica em São Julião da Barra, para quem não sabe, em Oeiras, perto do fantástico Farol do Bugio.
Pesquisamos no google maps e lá fomos nós a fazer quilómetros e andar mais de 100 km até visitar a barragem espanhola, onde o Tejo entra em Portugal. Enfim, lá foi a Vanessa a refilar mas foi. Como o Homem já me conhece deu-me um miminho para ver se me adoçava a alma, ou o coração, sei lá! Fizemos uma paragem na Praia Fluvial de Portagem, perto de Marvão, uma praia muito bonita no meio da natureza e com a vila de Marvão a espreitar o rio. Aqui pode encontra a Ponte Velha da Portagem, do séc XVI ou apelidada de "Ponte Romana", devido à sua proximidade com a cidade Romana Ammaia. Conta a história que o nome Portagem terá vindo dos judeus expulsos de Espanha, que para entrar em Portugal tinham de passar por esta ponte e pagar uma portagem. Se pensava que as portagens eram atuais, desengane-se pois já existiam no antigamente.
A praia fluvial é uma piscina natural do Rio Sever, muito procurada por Portugueses e Espanhóis, devido à proximidade do país vizinho. Fica localizada no centro de lazer da vila de Portagem, onde pode encontrar umas piscinas municipais, pagas, pode encontrar um espaço de lazer, com mesas de piquenique mesmo junto ao rio e um espaço comercial com restaurante e bar. Local ideal para desfrutar do ar livre, descansar à beira rio ou dar um mergulho nas frias águas do Rio Sever. Eu fui a banhos e foi fantástico. Refrescou-me o corpo e a alma e agora sim preparada para enfrentar o caminho até à Barragem de Cedillo e lá foi a Vanessa sempre a dormir.
Uma vez na Barragem de Cedillo, uma barragem imponente com uma paisagem soberba com as margens do Rio Tejo, onde deságua o Rio Sever. O Homem conversa com toda a gente e foi falar com uma família simpática, que descobrimos ser Portuguesa, que tinha casa em Portugal, perto de Montalvão e conhecia bem esta região. Foi uma conversa bastante agradável e que nos levou por um caminho mais perto para Portugal, atravessando a barragem pisamos terras portuguesas, poupando cerca de 50 km. Fácil não é? O Google maps não reconheceu e levou-nos a fazer um caminho muito mais longo.
Uma vez em Portugal, fizemos uma pequena paragem em Montalvão de forma a visitar as ruínas do seu Castelo. É uma pequena vila alentejana no concelho de Nisa. Sob o ponto de vista estratégico e militar, tendo em conta a proximidade com Espanha, esta vila foi palco de duras batalhas, como foi o caso da "Guerra das Laranjas". É uma vila com muita história para contar.
Quase de regresso a casa deslocamo-nos pela N244, seguida da N2, sempre por nacionais que o Homem adora e assim evitamos as portagens, com direção a Montargil. Uma barragem que também adoro, com a Albufeira de Montargil que convida a um mergulho, mas atenção, pois os rios são muito perigosos e tem de ter muito cuidado para não ficar preso em algum limo ou mesmo acontecer uma fatalidade pior.
A nossa roadtrip por terras do Alto Alentejo estava a chegar ao fim e estava na altura de voltar para casa. Continuando por nacionais até à Ponte Vasco da Gama seguimos o nosso caminho com direção às Renas, desculpem, Carcavelos, ou melhor o restaurante Taverna dos Pereiras ou não fossem horas de jantar, onde fomos bem servidos tanto em comida, como em bebida e na simpatia dos empregados. Depois de saciados fomos em direção a casa com mais um percurso, mais um caminho, mais uma história para contar, mas sobretudo recordar.
As viagem são as memórias por onde passamos e as pessoas que conhecemos e nos transmitem um pouco da sua gente e das suas vivências...
- "Viajo para que a vida valha a pena
- Viajo porque quero ampliar meus horizontes
- Viajo porque não seria a mesma pessoa
- se ficasse parada em um só lugar!
- Marianna Moreno
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