GUIA TURÍSTICO PARA OS AMANTES DE CAMINHADAS, NO CORAÇÃO DA SERRA DA ESTRELA E NOS PASSADIÇOS DO MONDEGO
(Roteiro de 3 Dias)
Para quem nos conhece, sabe que sempre que fazemos um dos nossos passeios levantamo-nos de madrugada para aproveitar o dia ao máximo e levamos sempre connosco, a nossa geleira elétrica para almoçar nos melhores locais que encontramos.
Neste nosso caminho arrufado tivemos de trabalhar de manhã e só saímos de Lisboa depois das 14 horas. Tudo estava a correr mal, não consegui sair mais cedo do trabalho, depois esqueci-me do telemóvel e tive de voltar para trás, afinal estava no carro, mas perdemos mais 15 minutos do nosso tempo precioso. No início da autoestrada apanhamos um acidente, o que nos fez perder mais 30 minutos e no último dia do nosso caminho, já de regresso a casa, o carro entrou em modo de emergência, com um problema que não conseguíamos identificar. A sorte é que o Homem manteve a calma, a cadência, evitando grandes subidas e lá continuamos até casa, sem grandes intercorrências.
Com tanta descrição dos nossos azares ainda não vos contei onde fomos desta vez.
O Homem tinha-me oferecido um voucher das Pousadas de Portugal e fomos aproveitar num fim de semana de Junho. Atenção que os voucher não são aceites em todas as pousadas e em algumas onde são aceites, é obrigatório ficar 2 ou 3 noites, pagando o restante valor no próprio alojamento. Foi o que nos aconteceu e só conseguimos marcar para a altura pretendida, na Pousada da Serra da Estrela.
Como sabem, o Homem é sempre muito organizado e leva o passeio bem delineado no google maps, com todos os pontos marcados, o que nos permite ter uma noção do tempo que demoramos até cada um dos locais que pretendemos visitar. Não esquecer de colocar os mapas offline, numa serra é sempre muito importante, pela pouca existência de sinal GPRS.
1º Dia - Lisboa, Lapa dos Dinheiros, Miradouro do Covão, Pousada da Serra da Estrela
Saída de Lisboa depois das 14 horas, pela A1 até à saída de Coimbra Norte, em direção ao IP3, seguido pelo IC6 em direção à Guarda, saída perto de Seia, em direção a São Romão e Lapa dos Dinheiros.
Chegamos à Praia fluvial da Lapa dos Dinheiros pelas 17 horas, deixamos o carro num estacionamento de terra batida a cerca de 200 metros da praia. Não havia ninguém no estacionamento e junto da praia existia apenas um homem a voar com um drone.
O café estava encerrado e o local estava deserto, talvez pela quase inexistência de água. Isto é o reflexo da atualidade do nosso país, a pouca existência de água nas praias fluviais, na agricultura, na pecuária.
Os Ambientalistas dizem que Portugal encontra-se parcialmente em situação de seca, devido a anos pouco chuvosos cujos efeitos são agravados pelas alterações climáticas e chegam mesmo a dizer que o país "está a viver além da água que tem". Nós nestes 3 dias de passeio, encontramos 3 praias fluviais quase sem água. Um problema grave que nos faz pensar!
Pelo menos tivemos o local quase só para nós e eu ainda fui experimentar a água que se encontrava a uma temperatura bastante agradável. O Homem levantou o drone e tirou umas bonitas fotografias. Foi um final de tarde muito agradável.
Saindo da praia dirigimo-nos para a Serra da Estrela, seguindo pela N231 e N238, passando pela estância de Sky da Serra da Estrela, pelo desvio para a Torre, onde acabamos por não parar. Pouco a seguir ao desvio para a Torre encontramos o mais recente miradouro da serra, inaugurado pelo Presidente da Câmara da Covilhã em Abril de 2023.
O Miradouro do Covão, encontra-se a mais de 1500 metros de altitude e apresenta uma plataforma suspensa em metal, com vista sobre os vales glaciares Zêzere e Alforfa. Este miradouro já existia, apenas foi requalificado e integra agora a Rede de Miradouros da Serra da Estrela. A intenção de criar esta plataforma de metal suspensa, foi transmitir ao viajante a sensação única de se sentir suspenso, além do solo, sobre a paisagem característica serrana.
No sentido descente da estrada nacional, logo a seguir ao miradouro encontra-se o túnel escavado na rocha, por onde circula a estrada, claro está que o Homem parou o carro no meio da estrada para tirar uma fotografia, com a pergunta de sempre: "o que fica para a história? o carro mal parado ou a fotografia?".
Chegamos à Pousada da Serra da Estrela pelas 19 horas onde tivemos um atendimento excelente de todo o staff da pousada. Recomendo. Tudo maravilhoso, desde o pequeno almoço, com uma variedade de iguarias, sumos frescos, fruta deliciosa, bolos caseiros, sem esquecer uma variedade de queijos e presunto. O quarto era ótimo e muito confortável. O hotel apresenta um Spa com piscina interior, sauna ,banho turco e ginásio, mas nós não visitamos. Apresenta também um bar junto da receção e que dá apoio à piscina exterior, com exceção de Julho e Agosto, onde o bar da piscina se encontra a funcionar.
No exterior encontramos um excelente jardim, com várias árvores, espaços reservados ao convívio com bancos construídos com palletes, um baloiço entre duas árvores e uma piscina exterior com uma zona com espreguiçadeiras e chapéus de sol. Nos quartos encontra toalhas para a piscina e roupões para o Spa. Atenção que é obrigatório levar touca para frequentar a piscina interior.
E agora um pouco de história sobre a pousada, um antigo Sanatório das Penhas da Saúde ou Sanatório dos Ferroviários, a 1200 metros de altitude, construído pela Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses, que durante os anos 20, servia para internamento e tratamento dos funcionários que estivessem doentes com tuberculose.
Com o aparecimento da quimioterapia para os doentes com tuberculose, este, assim como outros sanatórios acabaram por encerrar.
Depois da revolução do 25 de Abril de 1974, serviu para acolher vários retornados, chegando a encerrar pouco tempo depois, estando abandonado até o Grupo Pestana comprar este espaço em 2011, sendo inaugurada a Pousada de Portugal a 1 de Abril de 2014.
Sanatório / Pousada |
Elevador |
O arquiteto Eduardo Souto de Moura teve o cuidado de manter a fachada inicial, preservando o traço do majestoso edifício, como também a cor salmão, que era a cor original.
Os elevadores que se encontram dentro da pousada, mantiveram os traços originais dos anos 20, da altura do Charlie Chaplin, com um toque de modernismo da atualidade.
Outra particularidade do espaço são os interruptores, as torneiras das casas de banho, o chuveiro que imitam o antigo mas com o contraste do moderno, como é o caso dos estores elétricos.
O jantar foi na Covilhã que se encontrava em festa nesse fim de semana, com um arraial por trás da Câmara Municipal. Os restaurantes que nos tinham aconselhado no hotel estavam todos cheios e com várias marcações e fizemos a asneira de não esperar e fomos jantar a um pequeno espaço que se encontrava vazio e por alguma razão. A comida não era maravilhosa, um bacalhau espiritual cozido e regado com um infinito molho de azeite, acompanhado de umas batatas cozidas sem grande paladar. O vinho foi o que valeu neste jantar. Até mesmo o funcionário brasileiro, simpático mas muito pouco oportuno. A relação preço qualidade não foi das melhores.
O que nos valeu foi a garrafinha de licor de castanha que tínhamos comprado no intermarché e que nos fez as delícias no jardim da pousada.
2º Dia - Passadiços do Mondego, Belmonte, Pousada da Serra da Estrela
Tomamos um excelente pequeno almoço buffet às 8 horas. Infelizmente não conseguimos mais cedo porque o restaurante só abria a essa hora e depois de saciados, seguimos para Videmonte, no Concelho da Guarda, para visitar os mais recentes Passadiços do Mondego.
Escadaria de Videmonte |
Se optar iniciar na Barragem do Caldeirão começa com uma descida de mais de 800 degraus e vai encontrar um D+ de 500 metros.
Localizam-se no Concelho da Guarda, na Serra da Estrela. Um percurso pedestre com 12 km, onde se pretende dar a conhecer o património histórico e paisagístico das aldeias circundantes do Concelho da Guarda e onde pode contemplar cascatas, moinhos, antigas fábricas de tecelagem e de produção de electricidade, no serpentear do Rio Mondego.
A entrada nos passadiços custa um valor simbólico de 1€ por pessoa, sendo gratuito para crianças até 12 anos e em alturas de grande afluência é conveniente comprar a entrada antecipadamente no site dos passadiços, pois existe um limite de entradas diárias. É uma caminhada com um grau de exigência média e que não é para todos, principalmente se decidir ir no Verão como nós, que apanhamos temperaturas de 35ºC.
São aproximadamente 7 km em passadiços de madeira uns planos outros com escadarias, quase sem sombras. O restante percurso é feito por trilhos em terra batida e um pouco de estrada, na Vila Soeira, aproveitando o que já existia, passando por pequenas povoações, por um bosque com castanheiros, onde existem muitas sombras e onde pode descansar.
Durante o percurso existem três pontes suspensas sobre o rio e foram reabilitadas duas pontes, em que uma delas é a conhecida Ponte do Ribas, junto de um equipamento onde se faz slide.
Algumas partes do percurso ainda se encontram em reabilitação, assim como algumas infraestruturas, como casas de banho, bares de apoio e sinalética.
Todo o percurso usufrui de cobertura integral de rede móvel, que assegura a comunicação e a segurança em toda a sua extensão.
Iniciamos o nosso caminho pelas 9h30 em Videmonte, pela razão que apresentei anteriormente e fizemos ao nosso ritmo, sem pressa, com cadência, como o Homem costuma dizer, a contemplar a paisagem, a natureza, o chilrear dos passarinhos e com o som da água sempre a correr do Rio Mondego e da Ribeira do Caldeirão.
Por vezes passava por nós um grupo de pessoas ou um casal a passear também sem pressa ou mesmo alguns com crianças. Pessoas educadas que nos cumprimentavam e seguiam o seu caminho. Em alguns locais do nosso percurso o Homem tirou fotografias com o drone, que posso dizer que estão dignas da National Geografic.
Casa das Abelhas |
Passamos por três pontes suspensas sobre o Rio Mondego, fizemos uma breve paragem numa casa de madeira muito engraçada, cujo os proprietários são mãe e filho, onde vendem mel, cera de abelha e onde bebemos um café enquanto o Homem manteve uma agradável conversa com o senhor e tirou uma fotografia a dois burros (mãe e filho), que pertencem aos proprietários. Muito engraçado para os mais pequenos.
Uma particularidade que achamos muito interessante, são a existência de placas a informar a distância das casas de banho para cada um dos lados do percurso. Existem 4 em todo o percurso.
Fizemos várias paragens para descansar e com as horas a passar, o calor foi-se tornando insuportável e durante a nossa caminhada ainda ajudei uma senhora que teve uma reação vagal. Sou profissional de saúde e sinto o dever de ajudar os outros.
Colocamos-lhe as pernas mais elevadas e aos poucos foi ganhando novamente cor e ficando mais bem disposta. Mesmo assim, chamamos o 112, pois a senhora não tinha capacidade de continuar a caminhada. As pessoas não se informam e vêm umas fotografias nas redes sociais e pensam que isto é uma caminhada para todos, mas não é verdade, o trilho tem alguma altimetria e em dias de temperaturas elevadas torna-se ainda mais penoso.
Nos últimos 3 km finais fizemos mais uma paragem para ir à casa de banho e fazer a nossa refeição de uma sandocha de bifana, nas margens do Rio Mondego e com os pezinhos dentro de água. Foi muito relaxante.
Só não fui dar um mergulho porque não tinha o bikini vestido, mas é possível refrescar-se e até existe um baloiço improvisado dentro de água.
Continuando o nosso caminho, agora por estrada até à localidade de Vila Soeira, fizemos uma paragem no restaurante /bar que se encontra imediatamente antes da ponte onde iria começar a nossa tormenta, onde o Homem bebeu uma super bock e eu bebi um não, dois, copinhos de vinho à pressão que me soube pela vida.
Antes de partirmos, o Homem com a sua lata habitual, pediu ao empregado para encher a nossa garrafa de água para podermos enfrentar o último quilometro dos passadiços, mas o quilometro mais penoso, sempre a subir e com 35 ºC.
Foi difícil, muito difícil!
Os primeiros 250 metros foram em estrada de terra batida, os restantes 750 metros foram a subir uma terrível escadaria em madeira.
Escadaria da Barragem do Caldeirão |
Sensivelmente a meio da subida, encontramos um desvio agora a descer durante 100 metros para o miradouro com vista para a Cascata do Caldeirão, uma queda de água, que outrora foi gigantesca, onde as águas da Ribeira do Caldeirão se projectam para um abismo rochoso e íngreme.
Uma breve paragem para contemplar a magia deste espaço, respirar e beber mais um pouco de água e como quem desce, sobe, lá voltamos nós a subir os 100 metros até ao desvio e continuando degrau a degrau, sempre a subir.
Confesso que no início da subida, comecei a contar os degraus, mas a certa altura perdi as contas, mas há quem diga que são mais de 800 degraus até à saída dos passadiços.
Quase a chegar ao fim, encontramos um pequeno desvio também a subir para contemplar a bonita imagem dos passadiços com os seus montes circundantes e a Barragem do Caldeirão, do Miradouro do Mocho Real. Nós já não conseguimos fazer essa curta subida, estávamos demasiado cansados e o Homem tinha 180ppm. Está mesmo destreinado!
Aqui deixamos o nosso percurso dos Passadiços do Mondego
Finalmente chegamos ao fim, às 14h30 e fizemos mais de 12 km, agora foi só subir mais um pouco a estrada até o local onde se encontram estacionados os táxis. Ao fim de semana existem com muita frequência, embora existam também durante a semana. O valor é aproximadamente 15€ até Videmonte, onde tinha ficado o carro e onde iniciamos o percurso. Quem tiver fel, pode sempre voltar para trás e fazer mais 12 km e assim evita o valor do táxi. Não existe outro meio de transporte para voltar.
Cansados das pernas, mas saciados com tanta beleza natural, fizemos uma curta paragem em Belmonte para visitar a Torre de Centum Cellas, também conhecida pela Torre de São Cornélio, foi classificada como Monumento Nacional desde 1927.
Actualmente encontra-se em ruínas e não se sabe bem a sua verdadeira história. Há lendas que dizem que foi um acampamento romano, outras dizem que foi uma prisão com uma centena de celas, onde esteve cativo São Cornélio.
Chegada à Pousada pelas 17 horas onde aproveitamos o resto da tarde na piscina e nos seus jardins.
O Homem ofereceu-me no meu aniversário um voucher gourmet das Pousadas de Portugal e decidimos jantar no restaurante da Pousada.
Um restaurante a cargo do chefe Paulo Lopes que aposta na cozinha regional serrana, onde fomos extremamente bem atendidos, com funcionários muito simpáticos e atenciosos.
Deliciamo-nos com umas entradas de enchidos da Guarda e uma salada com frutos secos, seguido de um prato regional de arroz de zimbro com carqueja, e para finalizar um brownie com uma bola de gelado e molho de frutos vermelhos, uma verdadeira delícia e claro, bem acompanhados com uma garrafa de vinho tinto da região do Alentejo.
3º Dia - Pousada da Serra da Estrela, Covão dos Conchos, Poço da Broca, Foz d´Ègua, Pampilhosa da Serra, Lisboa
Depois de um excelente pequeno almoço no hotel, com tudo o que tínhamos direito e que nos permitiu refundir umas sandochas para comer ao almoço, saímos do hotel pelas 9 horas em direcção à Lagoa Comprida, para fazer o trilho do Covão dos Conchos.
O Covão dos Conchos é uma lagoa natural que se localiza junto da Lagoa Comprida, no Parque Natural da Serra da Estrela, a mais de 1500 metros de altitude.
Todo o percurso é relativamente simples e faz-se quase sempre em terra batida e com algumas pedras, tendo muito pouca inclinação, com um desnível positivo de cerca de 250 metros.
Como o trilho se encontra a mais de 1500 metros de altitude, a vegetação é rasteira, existe bastante vento e quase não existem sombras.
Um pouco antes de chegar ao Covão dos Conchos encontramos uma pequena lagoa muito bonita e sossegada onde tiramos uma belíssima fotografia. À medida que nos íamos aproximando, encontramos pequenos grupos de pessoas que nos explicaram como encontrar o Covão dos Conchos, pessoas simpáticas, com espírito de entreajuda, uma característica que encontramos quase sempre quando fazemos os nossos trilhos.
O ponto alto do percurso é a chegada à Barragem do Covão dos Conchos, que dispõe de um canal que recolhe e desvia a água até à albufeira da Lagoa Comprida.
A Lagoa Comprida foi construída em 1911, a partir de uma lagoa natural e constitui o principal reservatório de água da Serra da Estrela, sendo a maior das lagoas do maciço superior e o seu elevado potencial hidroeléctrico levou à construção desta barragem. Foi uma das primeiras obras de engenharia desta natureza.
Não fique dececionado quando chegar à Barragem do Covão dos Conchos e não encontrar nada, tem de contornar a lagoa e passar por trás de umas pedras até à placa informativa com a proibição de tomar banho e alertando alguns perigos. Só mesmo junto desta, podemos observar e contemplar a magia de um grande "funil", que mais parece que está integrado na lagoa, mas que foi feito pelo homem, com o objetivo de desviar a água através de um túnel com 1519 metros de comprimento, da Ribeira das Naves até à Barragem da Lagoa Comprida.
Depois de apreciarmos o sossego do espaço e toda a envolvência paisagística, o Homem voou com o drone e tirou umas fotografias maravilhosas. Bebemos um pouco de água e seguimos o nosso caminho, voltando pelo mesmo trilho e fizemos o mesmo que fizeram connosco. Quando encontrávamos alguém alertávamos para não ficarem desiludidos quando chegassem à barragem e não encontrassem nada, pois teriam de fazer como nós e deslocar-se até à placa informativa.
Deixamos o nosso percurso ao Covão dos Conchos
O percurso agora foi menos penoso, primeiro porque é quase sempre a descer e depois porque já o conhecíamos e perdemos menos tempo a contemplar a paisagem.
Chegamos ao carro pelas 12:30 horas e seguimos viagem passando por Vide, até ao Poço da Broca, que se localiza na Barriosa. Nós já o tínhamos visitado no Inverno, com a força das águas a cair sobre a forma de uma imponente queda de água.
Esta queda de água foi o resultado do desvio das águas da Ribeira do Alvoco e é considerada uma das cascatas mais imponentes da Serra da Estrela. Uma queda de água escondida no meio de exuberante vegetação, deslizando sobre as rochas, com um barulho ensurdecedor da água a cair, formando uma pequena lagoa de água transparente.
Aqui, pode encontrar um restaurante, com o nome de um dos pássaros que habitam nesta região, "Guarda Rios", uma pizzaria e um bar com vista para a cascata.
No Verão o Poço da Broca costuma ser uma praia fluvial, mas o que visualizamos quando chegamos, foi, a pouca existência de água e por essa razão as infraestruturas que haviam não estavam a funcionar. Não deixa de ser bonito contemplar esta maravilha que a natureza nos proporciona, mas se pensa ir dar um mergulho, o melhor mesmo é deixar para outro dia. Com a hora de almoço a aproximar-se, estava na altura de escolhermos o nosso melhor "spot" para o nosso piquenique.
Dirigimo-nos por serra, como o Homem gosta, com estradas estreitas, sinuosas e decidimos almoçar na Praia Fluvial de Foz d´Égua. Estacionamos o carro junto de um restaurante e lá seguimos nós com a nossa geleira elétrica. Quando lá chegamos deparamo-nos com um cenário idêntico aos anteriores. Onde está a praia? Onde está a água?
Praia Fluvial de Foz d´Égua, localiza-se na Serra do Açor, perto da aldeia de xisto do Piodão, a cerca de 5 km, estas águas resultam da Ribeira do Piodão com a Ribeira de Chãs. Aqui pode encontrar uma ponte de xisto, que une as duas margens da ribeira. Junto a esta ponte existe indicação para alguns percursos pedestres, como é o caso do PR2 Piodão um trilho circular, de cerca de 7 km, até ao Piodão.
Foi neste contexto que colocamos a nossa toalha e a geleira em cima das pedras, onde outrora existia água e onde as pessoas podiam tomar banho.
Neste momento a água dá pelos tornozelos, e na parte mais funda, onde no ano passado as pessoas não tinham pé, agora a água dá pela cintura.
Continuando o nosso caminho pela nacional, fizemos uma curta paragem em Pampilhosa da Serra para beber um café. A ideia original era beber o café na esplanada que fica junto da Praia Fluvial, mas depois de estacionarmos o carro e chegarmos ao espaço, o estabelecimento estava encerrado, a praia quase não tinha água e como tal não estava a funcionar, o parque infantil não tinha nenhuma criança a brincar. Apenas avistamos três jovens que ali se encontravam e tentavam refrescar-se com a pouca quantidade de água existente. Esta praia, é banhada pelo Rio Unhais e já foi considerada o cartão postal desta vila. No local, existem várias sombras e diversas pontes, que permitem passar de uma margem do rio para a outra. Ficamos desiludidos com o investimento nas infraestruturas recentes e constatamos que a população local não foi integrada nas novas infraestruturas.
Dirigimo-nos para o centro e junto da estrada criaram várias esplanadas que se encontravam cheias de gente, crianças e adolescentes a comer gelados, pessoas de idade a jogar às cartas e a beber um traçadinho, uma bebida alcoólica, comum nas tascas Portuguesas, homens de meia idade a contar anedotas e a beber umas minis, senhoras a conversar e a tomar o seu café. É engraçado observar a população e dizer como o Homem disse: "para que foi tanto investimento nas infraestruturas junto da praia fluvial, se a população está habituada ao café de sempre e onde foi toda a vida?"
Sem dúvida que todos nós somos uns animais de hábitos e que por vezes são difíceis de mudar. Nesta região de Portugal pode ficar deliciado com a gastronomia, como o bucho, a chanfana e a aguardente de medronho ou mel.
Estava na altura de regressar a casa e continuando pela nacional até Abrantes onde atestamos o carro de combustível, seguimos depois pela A1, e depois A5 até casa. O carro não estava a ter um comportamento normal e diz o Homem que entrou em modo de emergência. Ele manteve a calma e seguimos com cadência e devagar, mas por autoestrada e não por nacionais como ele gosta. A segurança acima de tudo. Chegamos a casa sãos e salvos e o carro também chegou. Claro está, que no dia a seguir foi à oficina e era o óleo dos travões.
Tudo se resolveu! Tudo ficou bem e nós com umas peripécias à mistura, mas com mais uma experiência multissensorial, mais um caminho arrufado e acima de tudo, mais uma história para contar e publicar!
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