GUIA TURISTICO PARA VAGUEAR NOS MONTES - UM PASSEIO À SERRA DE MONTESINHO E À SERRA DA PENEDA - GERÊS
(Roteiro de 2 Dias)
Agosto de 2020, despertador para as 2:30 da manhã, como já vai sendo normal nos nossos passeios. Isto para quem não nos conhece, é sempre assim...O Homem gosta de se levantar de madrugada de forma a aproveitar o passeio ao máximo , uma forma de aproveitar o gasóleo e desfrutarmos na plenitude as paisagens do nosso Portugal.
O destino escolhido desta vez foi a Serra de Montesinho com o seu Parque Natural, mas como também já é frequente, não ficamos por aqui e fomos também à Serra da Peneda - Gerês.
1º Dia – Lisboa, Bragança, Gimonde, Rio de Onor, Montesinho, Chaves, Gerês (816 km)
Saída de Lisboa às 3:00 da manhã pela A1 até ao km 284, seguindo pela A4 com direção a Vila Real / Paredes, seguimos pela saída 43 com direção a Bragança (509 km - 4h45 aproximadamente). Também pode escolher um percurso sem portagens, mas a duração será significativamente maior (488 km), não em kilometros mas em tempo de duração de viagem (cerca de 7h). Nós preferimos pagar portagens, mas ir tomar o pequeno almoço em Bragança.
O Parque Natural de Montesinho situa-se no Nordeste Transmontano e tem uma dimensão de cerca de 75 mil hectares. Faz fronteira a norte com a Galiza e Castela-Leão, a oeste com Chaves e a sul com Vinhais e Bragança, nós infelizmente não tivemos tempo de visitar este parque e como tal, vou apenas contar a nossa experiência.
A Serra de Montesinho é uma serra montanhosa com predominância de xisto, granito e rocha ultrabásica. Nesta serra existem 88 aldeias, que retratam as suas histórias, as suas vivências, com as suas pequenas casas construídas com o material característico desta região. Neste parque a espécie mais frequente é o lobo ibérico, o veado e a corça. A vegetação mais frequente são os carvalhos, os soutos, as giestas e o urze. A giesta ainda hoje é muito utilizada para cozer o pão, eu não sabia e foi o Homem que me explicou, ou ele não fosse de Alcanhões...
Alcanhões???
Isso é onde???
Distrito de Santarém...
A Serra de Montesinho passa a pouca distância de Bragança e foi nesta cidade histórica que iniciamos o nosso caminho. Há mesmo quem diga que Bragança são 9 meses de inverno e 3 meses de inferno, com Invernos muito frios e rigorosos e Verões muito quentes, com temperaturas que rondam os 40⁰C.
Como tal, a melhor altura para visitar Bragança e a Serra de Montesinho é seguramente no final da Primavera ou início do Outono, ainda com temperaturas amenas. A Primavera tem o seu encanto, pelas paisagens que podemos encontrar, com as mais variadas flores a desabrochar. No Outono temos o prazer de ver as serras salpicadas de vários tons, laranja, castanho, amarelo, tornando-se simplesmente mágico. No Inverno a Serra de Montesinho por apresentar temperaturas muito baixas, cobre-se de neve e pode ser a delicia dos miúdos e graúdos. A Serra do Gerês eu não aconselho uma visita no Inverno, pois pode encontrar a serra envolvida numa onde de nevoeiro, não permitindo contemplar beleza nenhuma, já no Verão, é a melhor altura, pois os dias são maiores o que nos permite aproveitar de uma forma exaustiva e ver sempre mais uma cantinho, um miradouro, uma aldeia, fazer percursos pedestres, dar um mergulho numa cascata.
Depois de tomarmos o pequeno almoço na praça central de Bragança, visitamos o centro histórico com a sua Igreja da antiga Sé de Bragança e o seu pelourinho.
Por último, subimos ao Castelo, com os seus magníficos jardins e pequenos postos de restauração dentro das muralhas. Era nosso objetivo ir beberricar um café num desses pequenos restaurantes e poder contemplar a vista do Castelo, mas infelizmente encontravam-se encerrados, talvez por serem apenas 8h00 da manhã.
De regresso ao nosso caminho, percorremos a Serra de Montesinho com as suas paisagens imponentes e vistas panorâmicas até à aldeia tradicional de Montesinho, a cerca de 1100 metros de altitude. Uma aldeia pequena com as suas casas escuras, todas em xisto, a sua pequena igreja e algum alojamento local.
Esta aldeia é bastante conhecida pelos seus percursos pedestres, para quem gosta de caminhar e aventurar-se no meio da natureza. Aqui pode encontrar o Trilho PR3 - Porto Furado, um trilho circular com cerca de 8 km. Nós não fizemos pois desconhecíamos este trilho e na realidade eu não gosto muito desse tipo de turismo de natureza. O Homem diz que é a melhor forma de conhecer as verdadeiras paisagens de Portugal, encontrando alguns locais perdidos no tempo, estando em contacto direto com a natureza e respirando ar puro. O importante diz ele, é levar um calçado confortável, água e alguma comida e estar minimamente preparado fisicamente para percorrer alguns kilometros a pé.
A Serra de Montesinho e as suas aldeias montanhosas, são conhecidas pelos seus mais variados percursos pedestres, trilhos, com ou sem guia. O importante é descarregarem os mapas offline. Estamos numa serra e frequentemente perdermos o sinal GPRS.
Confesso que a Serra de Montesinho não nos surpreendeu, apesar das suas paisagens magníficas e talvez porque não fizemos nenhum trilho de forma a contemplar a natureza e explorar a paisagem serrana.
Portugal tem locais paradisíacos e aldeias apaixonantes e talvez por essa razão, o nosso patamar está muito alto e tínhamos uma expetativa muito elevada.
O Homem tirou uma carta à Pai Natal e já tinha um destino pensado, visitar a Serra da Peneda - Gerês, com uma breve passagem por Chaves, para degustar o tradicional pastel de chaves.
Percorremos 120 km para chegar a Chaves, a melhor opção é ir pelas autoestradas espanholas, A -52, pois não se pagam portagens e é um trajeto mais rápido. Chaves é uma cidade histórica, fundada pelos romanos, conhecida pelas suas águas termais, a Torre de Menagem do Castelo, a sua Igreja Matriz, o Forte de São Francisco, que atualmente é um hotel, a Capela da Lapa, a sua Praça Central, onde deve deliciar-se com um Pastel de Chaves, dizem que os melhores são da Pastelaria Maria.
Não deixe esta belíssima cidade sem passear junto do Rio Tâmega e saltitar de pedra em pedra por uma caminho de pedras sobre o rio, que se chamam alpondras. Esta imagem já nos era familiar, porque já tínhamos encontrado este alinhamento de pedras na aldeia de Gimonde.
O "ex libris" da cidade de Chaves, é a Ponte de Trajano, uma ponte romana que foi mandada construir pelo Imperador Trajano. Só quem passa por lá entende a imponência deste marco histórico.
O interesse por esta cidade aumentou este ano com a paixão pelos Portugueses em descerem a épica Estrada Nacional 2. É nesta belíssima cidade histórica, que encontra o km 0 e onde se inicia a 3ª maior estrada do mundo, a nossa Estrada Nacional 2, uma estrada mandada construir por António de Oliveira Salazar e que tinha como finalidade ligar Portugal de lés a lés, ou seja, de Chaves a Faro, numa extensão de 739 km (quem tiver interesse em ler um pouco da nossa história e do nosso caminho por essa estrada magnífica, cheia de história, cultura, gastronomia e paisagens estonteantes, encontra na nossa página Nuestros Hermanos).
Saindo de Chaves, seguimos o nosso caminho com direção à Serra da Peneda - Gerês, a segunda maior elevação de Portugal, com 1546 metros de altitude, delimitada pelo Rio Cávado e Rio Homem. É uma serra em que predomina o granito, assim como na Serra da Estrela. O granito é uma rocha muito bonita e diferente das outras, pois é a única onde se conseguem identificar os vários cristais. A vegetação mais frequente nesta serra, inclui uma floresta de azevinho, o lirio do Gerês, com os seus tons azul-violeta, carvalhos e sobreiros.
O Parque Nacional da Peneda - Gerês envolve a Serra do Gerês, a Serra da Peneda, a Serra do Soajo e a Serra da Amarela. Nós apenas tivemos tempo de visitar a Serra do Gerês com as suas ribeiras e cascatas, com as suas paisagens apaixonantes, o Soajo com os seus conhecidos espigueiros e a Serra da Peneda, mais propriamente Castro Laboreiro. O Homem queria ir visitar a terra do cão do Barak Obama, o antigo Presidente dos EUA e lá fomos nós a Castro Laboreiro.
Chegamos à Serra do Gerês ao final do dia e fomos de imediato visitar não um dos pontos mais turísticos e conhecidos desta serra, mas talvez para nós, um dos locais mais surpreendentes e encantadores que dispensa apresentações, a Ponte da Misarela ou Ponte do Diabo, uma ponte medieval, sobre o Rio Rabagão, a cerca de 1 km da foz do Rio Cávado, com uma cascata a servir de cenário perfeito para uma fotografia. Para lá chegar é necessário percorrer a pé cerca de 850 metros , numa estrada de terra batida.
Esta ponte encontra-se num desfiladeiro escarpado e foi construída na Idade Média e reconstruída no final do séc. XIX. Está associada a vários rituais célticos, representando a cultura desta região e conta a história que foi construída pelo Diabo sobre o Rio Rabagão, de forma a ajudar um criminoso a fugir à perseguição dos soldados do Rei. Este criminoso durante a perseguição deparou-se com uma ribeira torrencial, no meio de uma vegetação densa e invocou o Diabo dizendo-lhe: "Faz-me transpor o abismo e dou-te a minha alma". O Diabo ouviu as suas preces e construiu de imediato uma ponte em pedra que atravessava o Rio.
Também pode ser conhecida pela Ponte da Fertilidade, estando associada a abortos expontaneos. Conta a história que se uma pessoa atravessar esta ponte e batizar com a água do rio a barriga da mulher grávida recitando estas palavras: "Eu te batizo criatura de Deus, pelo poder de Deus e Virgem Maria. Se fores rapaz serás Gervazio, se fores rapariga Senhorinha". Desta forma a gravidez seguiria em frente.
A nossa última paragem desse dia foi no Miradouro da Pedra Bela, onde fomos contemplar o pôr do sol, sobre o Rio Cávado. É considerado um dos miradouros mais bonitos da Serra do Gerês. O acesso é muito fácil pois o estacionamento fica a cerca de 100 metros do miradouro.
Nessa noite ficamos alojados na Pousada de Juventude que confesso que foi uma desilusão, por vezes mais vale pagar um pouco mais e usufruir de outras condições. Também foi só para descansar o corpo.
Outro problema que encontramos foi onde jantar.... nem parecia que estamos numa pandemia! Fomos até à Vila do Gerês e os restaurantes estavam todos cheios, com filas nas portas, até parecia que estava em Albufeira e não no Gerês.
Decidimos não facilitar e continuamos o nosso caminho até uma povoação mais pequena, com menos gente e onde encontrássemos um restaurante com comida caseira e onde fosse possível servir uma refeição tendo em conta já o adiantado da hora. Passamos por uma terra com um nome muito engraçado e dado o período que estamos a passar, tiramos uma fotografia e brincamos com a situação, a terra chama-se Covide . Esta fotografia representa o final do Covide, era bom não era??? Se fosse controlado por nós, assim seria, mas a pandemia veio para ficar e temos de aprender a viver com ela e com as mudanças que afetaram o nosso quotidiano.
Depois da fotografia em Covide continuamos a busca pelo restaurante, com a imprescindivel ajuda do google maps. O repasto foi no Cantinho do Antigamente, um restaurante pequeno com comida regional, muito bem confessionada, com um atendimento muito afável.
2º Dia – Cascatas do Tahiti, Portela do Homem, Termas Os Baños, Soajo, Castro Laboreiro, Vila Praia de Âncora, Lisboa (700 km)
A nossa primeira paragem deste segundo dia foi no Miradouro Voltas de São Bento, um miradouro muito menos conhecido que o da Pedra Bela. Foi uma agradável surpresa, pois encontramos este miradouro ao acaso e quando vimos a placa com o nome numa rocha, o Homem parou o carro e foi inspecionar o que ali se encontrava.
Et voilá! Ali estava o Miradouro Voltas de São Bento, um dos miradouros mais belos da Serra do Gerês e seguramente de visita obrigatória. As vistas são soberbas desde o Santuário de São Bento até à Portela do Homem, com o rio a servir de fundo para um cenário bucólico. O acesso ao miradouro é fácil pois fica muito próximo da estrada, apesar de ser uma estrada com curvas sinuosas, algumas escarpadas, mas com uma vista permanente sobre a Vila do Gerês.
Voltando à Serra, com as suas curvas arrufadas seguimos para a Cascata da Portela do Homem, que fica mesmo junto da estrada que vai para Espanha, numa zona protegida da Mata da Albergaria, onde não é permitido parar ou estacionar o carro. Para visitar a cascata ou mesmo dar um mergulho nas águas geladas da cascata, tem de estacionar o carro junto à fronteira com Espanha e ir a pé. Como tal, nós não paramos, apesar do Homem encostar o carro para tirar uma fotografia, mas eu comecei a tocar os sinos de Mafra (ouvem-se alto e ao longe), como ele diz, ou seja, a refilar, "não podes parar o carro aqui, qual a parte que não percebes do código da estrada?" e lá seguimos nós o nosso caminho.
Desta vez passando pela fronteira espanhola até às Termas de Lobios, uma piscina natural de água quente, de origem vulcânica, com uma temperatura entre 36 e 48 ºC, mas eu não achei nada disso. Dista apenas 8 km da fronteira de Portugal e vale a pena lá ir dar uma mergulho nas águas quentes da piscina natural.
De regresso a Portugal continuamos o nosso caminho até à Serra do Soajo, passando pela Albufeira da Caniçada. Uma paisagem surpreendente com as suas águas calmas e como cenário de fundo as montanhas áridas. Vale bem a pena parar, respirar, apreciar esta beleza e ouvir o silêncio.
Saindo de Soajo fomos em direção à Serra da Peneda, mais propriamente para Castro Laboreiro, são cerca de 40 km e o percurso mais rápido obriga-nos a fazer um pequeno desvio por terras dos nuestros hermanos.
Castro Laboreiro foi uma agradável surpresa, já tínhamos ouvido falar desta aldeia, mas percorrer as suas ruelas, conhecer a sua história, com as suas pontes romanas, as ribeiras a correr junto da estrada, é verdadeiramente mágico. É uma aldeia que tem muito para contar, muito para descobrir e sem dúvida foi o ponto alto da nossa viagem. Posso mesmo dizer que para mim é uma aldeia perdida no tempo.
O nosso almoço deste dia foi nesta bonita aldeia, o Homem tirou a geleira e fizemos o nosso repasto sentados numa pedra, junto do rio, a observar a ponte romana.
Um dos pontos interessantes a visitar é o pelourinho, do séc XVI, com uma arquitetura manuelina, a Igreja Matriz de época pré românica e o Castelo de Castro Laboreiro onde restam apenas algumas partes da muralha. O Homem foi fazer o curto trilho, mas exigente até ao castelo para contemplar as emblemáticas Cascatas Fechas do Malho.
Tu viste?
Eu não vi e ele também não... ficam escondidas no meio da serra e de difícil acesso. Fez muito bem e assim fez uma caminhada... eu também fiz algum exercicio sentada numa esplanada com vista para o vale, mas foi com o braço, ou seja, pega na cerveja e leva à boca, agora para a mesa e assim sucessivamente.
De saída de Castro Laboreiro o Homem parou mais uma vez, em cima duma ponte, a Ponte Romana de Dorna, para tirar uma fotografia, um casal simpático que estava a fazer um piquenique com os seus filhos meteu conversa connosco e sugeriu irmos visitar a ponte velha romana e a aldeia de Pontes.
Inversão de marcha e lá fomos nós procurar a ponte. Não fomos enganados e encontramos um cenário épico. Parecia que estávamos noutra época. Uma ponte antiga, de origem romana, de nome Ponte da Cava da Velha, com o Rio Laboreiro a passar por baixo, envolvida numa vegetação exuberante e a terminar numa pequena lagoa onde tive o prazer de ir a banhos, com esta paisagem envolvente. Foi verdadeiramente mágico. Adorei!
Depois desta maravilha, fomos visitar a aldeia que o simpático casal nos aconselhou a Aldeia de Pontes, uma aldeia típica e castreja. Esta aldeia esteve desabitada durante 17 anos e está a ser recuperada por um dos filhos da terra, para turismo local, onde todas as casas recuperadas têm um nome relacionado com a sua localização ou função, como é o caso da Casa da Eira, com porta para a eira comunitária, onde os habitantes malhavam os cereais. É um local onde pode descansar, ouvir o chilrreal dos passarinhos, o som da água da ribeira e estar em harmonia com a natureza.
A poucos metros da aldeia encontra-se o aqueduto romano que servia na altura para rega.
A 500 metros da aldeia encontra-se o Poço do Contador, excelente para dar um mergulho nas águas do Rio Laboreiro. Nós não encontramos o Poço, a sinalização não é a melhor.
O tempo urge e começa a ser altura do regresso à nossa cidade de Lisboa. Seguindo pela N202 e depois pela N101, passamos por Monção, Vila Nova de Cerveira e fomos lanchar a Vila Praia de Âncora., cerca de 94 km e aproximadamente 1h 30 minutos.
Vila Praia de Âncora pertence ao Concelho de Caminha e é uma vila pescatoria, com o seu areal que se estende desde o seu porto até à foz do Rio Âncora. Fazer um passeio pedestre nos seus passadiços de madeira junto à praia é muito relaxante e foi neste contexto que o Homem tirou mais uma vez a geleira e lanchamos em frente ao areal com o mar como cenário de fundo.
Hora de voltar para casa e fizemo-nos à estrada. Agora foi altura de irmos por autoestrada (A28 e A1) apesar das portagens, mas ainda tínhamos um percurso de cerca de 400km.
Nem sempre o destino
é o mais importante da viagem!
Com a pessoa certa ao teu lado
a vigem torna-se inesquecível!
Esta foi só mais uma viagem
que faz parte da nossa história!
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