Raízes de Portugal

 


GUIA TURÍSTICO PARA DESFRUTAR DAS PAISAGENS ARREBATADORAS DO DOURO VINHATEIRO E DAS  BUCÓLICAS ALDEIAS HISTÓRICAS DE PORTUGAL 


(Roteiro de 2 Dias intensos)



Covid-19, aquela doença que veio para ficar, que nos afastou da família, dos amigos, das viagens, afastou-nos da vida.... tivemos que nos adaptar e aprender a viver com esta pandemia. Passaram 6 meses sem sair da minha cidade, sem ter o privilégio de poder contar mais uma história, sem sentir o prazer da liberdade!

Será demasiado cedo para percorrer mais um caminho arrufado?? Ou será que já é altura de o fazer, com todas as medidas de segurança??

Mais uma vez de madrugada, ainda o galo não tinha acordado e as gatas dormiam cada uma na sua cadeira, levantamos a pestana e lá partimos nós com destino a Vila Nova de Gaia, de forma a percorrer a Nacional 222 e poder desfrutar da beleza dos miradouros do Douro Vinhateiro.

A estrada N222 liga Portugal de Oeste a Este, mais propriamente de Vila Nova de Gaia a Vila Nova de Foz Coa, onde o quilómetro 226 se situa numa terrinha denominada Almendra. Em comparação com outras nacionais do nosso país, é uma estrada que possui troços em muito mau estado, com muitas curvas sinuosas e perigosas ao longo da margem esquerda do Rio Douro. Para ter acesso aos miradouros tem de sair da nacional 222 e seguir outras estradas, por vezes municipais e em melhor estado de conservação.

O percurso entre o Peso da Régua e o Pinhão foi distinguido em 2015 como a melhor estrada do mundo para se conduzir, acompanhada de uma beleza impar do Rio Douro, com as suas margens cobertas de vinhas e quintas conceituadas do famoso Vinho do Porto.


Não existe a melhor altura do ano para planear uma viagem desta envergadura, o importante é antes de partir, descarregar os mapas offline porque como o percurso passa por várias serras, o sinal GPRS é perdido com muita frequência. 

Para nós a melhor época do ano será sempre a Primavera, pois os dias têm maior duração do que no Inverno, as temperaturas são muito amenas e se for em Abril, tem a oportunidade de visualizar as cerejeiras em flor na Serra da Gardunha, dizem que é mágico. Nós fomos em Maio e as cerejeiras já não não estavam em flor mas sim, cobertas de cerejas e a avaliar por aquilo que vimos ainda estavam bastante verdes, o que significa que nesta altura do ano quando virem à beira da estrada senhoras a venderem caixas com este fruto, certamente não devem ser Portuguesas, mas sim Espanholas.

O Outono também é uma excelente altura do ano para fazer este percurso, com as encostas do Douro salpicadas de tons laranja, amarelo e castanho, em que a temperatura ainda é bastante agradável e os dias ainda têm algumas horas de sol. É talvez a época do ano mais procurada pelos turistas por causa das vindimas e dos mais variados programas que um infinito número de Quintas do Douro tem para oferecer de forma a participar na "apanha e pisa da uva".

No Verão terá certamente a oportunidade de desfrutar das mais variadas praias fluviais, passeios no Douro e alguns desportos aquáticos, mas atenção que as temperaturas são bastante altas e existe muito turismo.


1º Dia – Lisboa, Vila Nova de Gaia, Vila Nova de Foz Coa, Amendra, Guarda (643km)


Alvorada às 4h30 da manhã bem abastecidos com tudo o que precisamos para os nossos repastos na nossa geleira elétrica, com saída de Lisboa às 5h pela A5, A9, A8, A17 e A29 até Vila Nova de Gaia (327km), mais propriamente até à rotunda de Santo Ovídio, onde se inicia a Nacional 222.
Durante o caminho por esta nacional, tem a oportunidade de passar por vários miradouros com uma beleza impar sobre o Rio Douro e por três zonas classificadas como Património da Humanidade da UNESCO: a zona ribeirinha do Porto, o Alto Douro Vinhateiro e as Gravuras Rupestres em Vila Nova de Foz Côa.

A nossa primeira paragem foi em Gondarem e Midões, pequenas aldeias de xisto no concelho de Castelo de Paiva que se localizam muito perto uma da outra. Na nossa opinião, não encontramos grande interesse na primeira aldeia, talvez por ser muito cedo e não encontrarmos ninguém nas ruas e podermos presenciar os costumes e tradições dos aldeões. 



Na aldeia de Midões destacamos o passeio ribeirinho e o cais, com uma paisagem sublime das margens do rio Douro e as encostas coloridas e recheadas de árvores a perder de vista a servir de pano de fundo. É sentir uma liberdade imensa, uma paz de espirito, acompanhada com a brisa que agita as árvores e a melodia dos passarinhos.

O primeiro miradouro que visitamos foi o Miradouro de Catapeixe em Castelo de Paiva, onde poderá desfrutar de magnificas vistas sobre o Rio Douro e Paiva e como cenário de fundo a Ilha dos Amores. Conta a lenda, que ali se viveu um amor proibido entre um jovem lavrador e uma fidalga. Este jovem após ter assassinado o seu concorrente, atirou o corpo ao rio e tinha a intenção de se esconder nesta ilha com a sua amada, mas ao dirigirem-se de barco para a ilha numa tormenta, o Douro engoliu o barco, colocando um fim a este amor proibido. 




Fazendo um desvio da N222 fomos visitar a Cascata do Ribeiro do Sampaio, no concelho de Cinfães, que se encontra mesmo ao lado da estrada. Neste local poderá desfrutar da tranquilidade da água a saltitar de pedra em pedra, fazer uma curta caminhada de forma a ver a cascata mais de perto, ou aproveitar uma das mesas de piquenique que ali se encontra. 




 Continuando a nossa roadtrip voltando à N222 e às suas curvas sinuosas, ou não estivéssemos numa serra... serra que é serra tem curvas, já a minha avozinha dizia, a próxima paragem foi em Cinfães, situada na Serra de Montemuro. 

Cinfães é uma vila situada no distrito de Viseu, onde destacamos a Igreja Barroca São João Batista e o Pelourinho.

Saindo desta vila, depois de uma curta paragem para esticar as pernas e apreciar a beleza desta igreja barroca fomos contemplar a imponência do Douro, na foz do Bestança, através do Miradouro de Teixeiró, um dos miradouros da Rota do Românico. 


As vistas são soberbas, com a albufeira da Pala, resultado da construção da Barragem de Carrapatelo, a Ponte de Mosteiró, as Aldeias de Porto Manso e Boassas e o cais de Porto Antigo, onde antigamente os barcos rabelos que transportavam o vinho do Porto para o cais de Gaia faziam uma paragem. Atualmente não vai encontrar barcos rabelos mas sim vários barcos cruzeiro com vários turistas, que fazem a sua viagem pelas margens do rio. Na nossa opinião este tipo de turismo acaba por ofuscar a beleza do Douro.




Deixando o cais de Porto Antigo para trás, fomos tentar descobrir mais um dos "ex libris" atuais, mais um baloiço instagramável, o Baloiço do Bestança, que fica localizado em Pias, mesmo ao lado da N222. É uma curta caminhada pela Calçada de 5 Rodas, muito agradável, junto do rio Bestança, passando pela truticultura cheia de vida e no meio da natureza, mas infelizmente não vimos o baloiço. 

Penso que deve ter sido retirado durante o Inverno, devido à força da água a descer no meio das pedras. "Qui ça" o baloiço volte no Verão!

Retomando à nacional 222 e com um aperto no estômago, ou não fosse já hora de almoço, fomos em direção a um dos melhores restaurantes da região de forma a degustar do nosso repasto. Curiosos??!!


Miradouro de São Silvestre do Cimo do Douro, localizado em Mesão Frio, com uma vista de cortar a respiração onde o Rio Douro descreve uma das curvas em "L" e onde é possível observar a  paisagem vinhateira e as vistas sobre Mesão Frio. A chegada ao miradouro é sempre a subir, com subidas vertiginosas, mas a estrada está em bom estado de conservação e o carro pode ficar estacionado bem perto do miradouro. 

Eu própria tive algum receio em lá chegar, mas posso garantir que vale muito a pena superar os medos para desfrutar do cenário que ali se avista. Também pode visitar a pequena igreja que ali se encontra, ou tirar uma fotografia no Baloiço que fica mesmo em cima do miradouro. Uma ótima fotografia para o facebook ou instagram. Nós aproveitamos a vista soberba sobre o rio e fizemos deste local o nosso restaurante. Foi memorável!


De regresso à estrada nacional 222 preparamo-nos para percorrer o troço da estrada que deu o trofeu da  estrada mais bonita do mundo, entre  o Peso da Régua e o Pinhão. É sem dúvida uma imagem arrebatadora, com paisagens vinhateiras, manchas de pinhal, oliveiras e giestas a perder de vista, com as suas 93 curvas que acompanham o serpentear do Rio Douro. São apenas 27 km, mas pode demorar algum tempo, pois certamente irá  fazer várias paragens e tirar muitasss fotografias. Não paramos nem na Régua, nem no Pinhão, não por não valer a pena, mas sim porque quando descemos a nacional 2 fizemos estas paragens, ou eu não precisasse de mais um carimbo no meu passaporte da N2. 


A próxima paragem deste nosso caminho arrufado foi no Miradouro de Casal de Loivos, a poucos quilómetros do Pinhão, na aldeia de Casal de Loivos. É um dos miradouros mais incríveis da região do Douro Vinhateiro, com uma vista panorâmica sobre o Pinhão e o Vale do Douro, onde pode apreciar mais uma das curvas em "L" do Douro. Neste miradouro encontramos um grupo de jovens a fazer deste local o seu restaurante, com uma das vistas mais incríveis sobre o Douro.



Continuando o nosso caminho arrufado, o Homem tirou a sua carta à pai natal e tinha uma surpresa programada, voltamos para trás, em direção à Régua, eu a refilar e a perguntar onde íamos, ele a dizer que logo eu iria ver e lá fomos nós  até à Quinta do Seixo - É uma quinta de produção do vinho do Porto, onde é possível visitar a adega e fazer provas de vinho do Porto. 

Nós apenas fomos degustar de um cálice de vinho tawni Sandeman sobre uma vista "stunning" do rio Douro e as suas encostas cobertas de vinhas. Foi sem dúvida uma agradável surpresa, que até teve direito a uma ramo de rosas apanhado mesmo ali na quinta.

De saída da quinta seguimos em direção à aldeia de Provesende, que fica localizada no topo de um planalto. A aldeia é pequena e bonita, onde destacamos o pelourinho e a igreja matriz, mas o mais interessante é o percurso até lá chegar, sempre a subir, com as suas curvas sinuosas e com vários miradouros onde poderá contemplar as magníficas paisagens sobre o vale do Rio Pinhão e os seus socalcos cobertos de vinhas.

 



De regresso à nacional 222 e nas suas curvas contra curvas fomos em direção ao Miradouro de São Salvador do Mundo, sem antes passar pela vila de São João da Pesqueira, onde destacamos a Igreja Matriz, a Capela da Misericórdia, a Torre do Relógio e o Convento de São Francisco.




O Miradouro de São Salvador do Mundo fica situado na margem esquerda do Rio Douro, classificado como Património Cultural da Humanidade. Considerado o maior Santuário do Alto Douro Vinhateiro e constituído por um conjunto de 10 ermidas que se erguem no cimo do Monte do Ermo, que a partir do século XVI, com a construção de um ermitário era usado para fins religiosos. Oito das capelas estão numeradas e representam a paixão de Cristo, cada capelinha diz alguma coisa acerca dos vários estados de Jesus com a cruz, durante o seu calvário. 



Do alto do miradouro, sente-se uma tranquilidade, uma paz de espirito e a paisagem é de grande beleza, com vista para a Barragem da Valeira e para as encostas escarpadas de granito que contrastam com as vinhas, oliveiras e alguns pomares. 
E já o poeta Miguel Torga escreveu:

“Desço o Doiro de barco, desde a foz do Sabor. Faltava no meu rol de deslumbramento o maior de todos que só hoje, ao cabo de muitos anos de espera, me foi concedido por não sei que caprichoso Deus do acaso. Vou colado à proa do rabão, alheio aos dentes de sol e ao garrote de sede, atento apenas à tragédia de água e pedra que há horas se desenrola no palco movediço, entre fúrias e catarses. (…) Por isso, digo adeus a S. Salvador do Mundo, que espreita lá do alto o abismo de onde lhe aceno, e sigo humildemente silencioso, ao som do compasso dos remos, metrónomos da minha emoção sem palavras”
Miguel Torga

O acesso ao miradouro é bastante acessível através de uma estrada estreita mas asfaltada, com estacionamento muito próximo do miradouro.

Para quem tiver interesse em caminhar e fazer algum trilho, existe um percurso pedestre da Grande Rota GR14 - Rota dos Vinhos da Europa, este percurso passa por caminhos rurais e tem aproximadamente 45 km de extensão.



Continuando a nossa roadtrip, fomos em direção a um pequeno miradouro, o Miradouro Olhos do Tua,  para nós um dos melhores miradouros desta zona, com uma paisagem envolvente que convida a sentar e apreciar uma excelente panorâmica sobre um amplo troço do vale do rio Tua. Este miradouro localiza-se no limite nordeste de Castanheiro do Norte, uma pequena aldeia isolada e foi construído em aço corten, representando a quilha de um barco numa alusão à recente navegabilidade deste curso fluvial, é um projeto  do escultor Paulo Moura.


De saída deste miradouro magnifico e de forma a complementar este tipo de paisagem, sugerimos uma paragem em Ferradosa e na aldeia de São Xisto onde as vistas para o Douro também são soberbas, já para não falar na linha do comboio, que é fantástica e onde eu tirei uma fotografia instagramável no meio da linha. Esta estação situava-se no troço da Linha do Douro, entre o Tua e Pocinho e foi encerrada com a construção da Barragem da Valeira, tendo sido substituída pelo Apeadeiro de Ferradosa.






De regresso à nacional 222 fomos descobrir o Miradouro do Alto de Vargelas, que se localiza entre Vale de Figueira e Ôlas, na estrada nacional EN541, onde o Douro parece mesmo o paraíso, com uma beleza impar, que nem o mais famoso dos pintores seria capaz de pintar tamanha beleza. O escritor Francisco Moita Flores descreve este miradouro de uma forma incólume:

«Quem subir ao alto de Vargelas ficará com a certeza de que chegou ao ponto mais belo do céu. O Douro visto daquele píncaro é o Paraíso prometido em todas as lições de catequese. É grandiosamente belo! As montanhas entrelaçam-se, magníficas, para, de repente, se escancararem em vales matizados com toda a paleta de verdes e castanhos que Deus inventou. E pelas encostas, as quintas vão pintalgando de branco o silêncio majestoso por onde o Rio serpenteia.» 

Francisco Moita Flores, in a Fúria das Vinhas




Já próximo de Vila Nova de Foz Côa, fizemos uma paragem nas misteriosas Ruínas do Prazo, a menos de 2 km da N222, vulgarmente conhecidas pelo cognome de Machu Pichu de Portugal. Aqui pode encontrar alguns vestígios arqueológicos mais bem preservados do nosso país. Confesso que ficamos desiludidos, pois a localização através do GPS não é brilhante,  a sinalização vertical do local é inexistente, os acessos são através de uma estrada de terra batida, em mau estado de conservação e as ruínas ficaram aquém das expetativas.





Já muito perto do fim da N222, abandonando as encostas do Douro com as suas vinhas e dando lugar ao cultivo das amendoeiras, onde a estrada é mais moderna, com  o seu pavimento mais bem asfaltado chegámos a Vila Nova de Foz Côa, a capital das pinturas rupestres, mas pelo adiantado da hora já não foi possível deslocar-nos ao Parque Arqueológico do Vale do Côa, apenas tivemos o privilégio de contemplar  a paisagem sobre o Rio Côa do seu altaneiro miradouro, onde costuma existir uma esplanada que proporciona uma vista soberba sobre as encostas virgens do rio.



Deixando esta vila para trás com a promessa de um dia voltar, regressámos à nacional 222 até Almendra, onde o Moto Clube do Côa assinalou o final da estrada colocando uma placa simbólica que assinala o final da Estrada Nacional  222. O Homem ainda queria tirar mais uma fotografia na rotunda que assinala o quilometro 226 da N222, mas eu lá toquei "os sinos de mafra" e disse-lhe que estava cansada e eram 20 horas e ainda tínhamos 90 km para percorrer até à Guarda, o nosso destino final desse dia. 
Chegamos à Guarda pelas 21 horas, seguindo pelo IP2 e fomos diretos a uma restaurante, onde comemos os tradicionais enchidos da Guarda, uma verdadeira iguaria, seguido do tradicional cabrito assado e muito bem regado de um vinho tinto das beiras. Depois de uma pequena caminhada pelo centro da cidade e da tradicional fotografia da Sé Catedral fomos pernoitar ao "Hotel Lusitania Congress & Spa", um excelente hotel de 4 estrelas com um pequeno almoço bem guarnecido e com muitas iguarias representativas da região.




2º Dia – Guarda, Linhares da Beira, Trancoso, Marialva, Castelo Rodrigo, Almeida, Castelo Mendo, Belmonte, Sortelha, Monsanto, Idanha a Velha, Castelo Novo, Advagar, Lisboa  (cerca de 700 km)





O 2º dia do nosso roteiro teve como objetivo visitar as Aldeias Históricas de Portugal e fazer uma viagem ao passado acompanhada de paisagens deslumbrantes.  São 12 aldeias de granito e xisto, carregadas de histórias de conquistas, costumes e tradições antigas: Pinhão, Linhares da Beira, Trancoso, Marialva, Castelo Rodrigo, Almeida, Castelo Mendo, Belmonte, Sortelha, Monsanto, Idanha a Velha, Castelo Novo.

A maioria das aldeias situam-se no alto das serras e são acompanhadas pelo seu Castelo Medieval, que noutros tempos foram a primeira linha de defesa da Independência de Portugal. A única aldeia que não possui um castelo é Piodão, uma aldeia de xisto, localizada na Serra do Açor,  rodeada de escarpas abruptas, recheada de nascentes, com as suas casas distribuídas em socalcos. Nós não visitamos esta aldeia porque já conhecíamos, mas é verdadeiramente mágico passear nas estreitas ruelas e contemplar a beleza das casas em xisto com portadas em azul.

Saímos da Guarda pelas 8 horas com direção a Linhares da Beira pela A25 e N17, cerca de 45 km em aproximadamente 40 minutos. É uma aldeia que se localiza no Parque Natural da Serra da Estrela, onde destacamos a igreja matriz de origem românica, o pelourinho e o castelo erguido num planalto. Esta aldeia é considerada a capital do Parapente, por se situar no alto de uma serra e possuir ótimas condições atmosféricas para praticar este desporto. 




Deixando Linhares da Beira fomos em direção a Trancoso, uma aldeia mais cosmopolita e na nossa opinião menos interessante do que a anterior. O ponto de partida para entrar nesta aldeia é a Porta d' El Rei, onde destacamos a igreja de São Pedro e a igreja de Santa Maria, o pelourinho, onde o Homem parou em contramão para tirar uma fotografia e onde foi abordado pela GNR por se encontrar em infração. Por mais que eu refile, o Homem para em todo o lado, sejam pontes, sejam estradas arrufadas, seja em contramão, de forma a documentar fotograficamente as nossas histórias, muitas vezes tira excelentes fotografias, mas desta vez correu mal. 
O centro histórico de Trancoso está rodeado de muralhas medievais, onde é possível descobrir símbolos hebraicos gravados em algumas casas. Outro marco histórico da aldeia é o seu Castelo Medieval.





A nossa próxima paragem foi em Marialva, na nossa opinião o "ex libris" da nossa viagem. Uma aldeia medieval com muita história para contar, estando ligada à tragédia dos Távoras, um escândalo politico do séc XVIII, sobre o regicídio contra o Rei D. José I que culminou na sua execução pública em Belém, levando a que a população abandonasse a cidade que existia no interior do castelo. O que mais nos agradou nesta aldeia, foi a sensação da aldeia ter parado no tempo e ter o alcance de nos transportar à tragédia que se passou no séc XVIII, quase que sentimos os seus costumes, as suas tradições e as suas vivências. A cidadela no interior do castelo continua em ruínas, não tendo sido reconstruída propositadamente de forma à população sentir o peso desta tragédia que aconteceu em 1758. 


Nós tivemos a sorte de ser domingo e termos o privilégio de presenciar uma missa, na igreja recuperada, que contrasta com as ruínas da cidadela e mesmo estando a chover e o piso não ser o melhor, se encontrava cheia de aldeões devotos das aldeias limítrofes. Foi sem dúvida uma memória que iremos guardar. Vale muito a pena visitar esta aldeia!


A caminho da nossa próxima aldeia, passando pelo Rio Côa, o Homem fez mais uma daquelas paragens, ou não visse ele as suas queridas cabras, ele e os animais dos montes. Com um sorriso nos lábios lá foi ele para o meio da estrada, quase em cima das cabrinhas para tirar a sua fotografia. O pastor gritava ao longe: 
- Não as deixe passar, que elas ainda levam com o cajado! 
E assim foi. Ele destemido não as deixou passar e os animais lá foram com o pastor a praguejar com a vida. 



Castelo Rodrigo, outra aldeia que conserva as ruínas de outra fortaleza com marcas de histórias de batalhas com os "nuestros hermanos" e tradições, com as suas muralhas, onde se destacam os seus imponentes torreões. Os monumentos que acrescentam valor ao património histórico da aldeia são o castelo, o pelourinho quinhentista, a igreja matriz e as ruínas do Palácio de Cristão de Moura. Foi considerada uma das 7 Maravilhas de Portugal. Que sinceramente não consigo perceber a razão. Na nossa opinião existem aldeias bem mais interessantes para serem distinguidas com este título. 



Saindo de Castelo Rodrigo fomos em direção a Almeida, que se destaca pelas suas muralhas que ao serem vistas do ar, formam uma estrela de doze pontas que podemos percorrer de um extremo ao outro. É uma vila fortificada e foi palco de várias batalhas, nomeadamente em 1810, durante a III Invasão Francesa, a batalha "O Centro de Almeida". Após a Restauração, esta vila empenhou-se na construção de uma máquina de guerra que se adaptasse às novas armas de fogo, de forma a selar a fronteira. A praça forte é hexagonal com seis baluartes, que correspondem ao mesmo número de revelins. Os locais de maior interesse são: a fortaleza, as ruínas do castelo, o picadeiro d 'el Rei, os paços do concelho.




Castelo Mendo foi a aldeia que escolhemos para o nosso repasto. Uma aldeia com características medievais, onde as muralhas guardam um conjunto edificado de memórias históricas, com janelas da época manuelina e varandas alpendradas. Na Idade Média o seu núcleo urbano era de uma enorme importância, devido à sua proximidade com a fronteira Espanhola e às suas características defensivas.  O terramoto de 1755 destruiu parcialmente esta aldeia, que no passado era guarnecida por oito torres. O que destacamos desta aldeia são: as igrejas de São Vicente e São Pedro e o castelo, onde dentro das suas muralhas se encontra uma igreja parcialmente destruída pelo terramoto. 




É um sossego passear dentro das muralhas do castelo, e poder desfrutar desta tranquilidade e desta beleza impar ao contemplar a igreja perdida no meio das muralhas. Foi neste contexto que o Homem tirou a geleira do carro e bricolamos as sandochas bem regadas com uma caneca de metal de vinho, que nos transporta aos adornos da 1ª Guerra Mundial.


Como ainda pretendíamos visitar as restantes aldeias, seguimos pela autoestrada A25 até Belmonte, cerca de 57 km mas que no google maps dizia ser o trajeto mais rápido. 

Belmonte, terra de Pedro Alvares Cabral, terra dos Judeus e berço dos Cabrais, com uma vista sobre a encosta oriental sobre a Serra da Estrela. Em 1297, antes da assinatura do Tratado de Alcanizes integrava a linha defensiva, protegendo o Alto Côa. Depois da assinatura deste tratado, a população foi crescendo para fora das muralhas do castelo, que foi perdendo a sua importância. Belmonte significa belo monte, mas também pode significar "belli monti", monte de guerra, pelas suas inúmeras histórias de batalhas. Não deixe de visitar a vila romana de Fórnea, a Igreja de Santiago, os vários museus e o seu castelo, com visita guiada e paga. Nós não visitamos por falta de tempo. 




A próxima aldeia foi Sortelha que fica bastante próximo de Belmonte. Sortelha localiza-se junto à Serra de Opa e é uma das mais belas e antigas vilas portuguesas e mais bem conservadas, tendo mantido a sua fisionomia e arquitetura, mantendo a sua traça medieval. As casas estão cercadas pelas muralhas do castelo do séc XIII, num terreno cheio de irregularidades. 


Passear pelas ruelas do aglomerado, junto do pelourinho manuelino, visitar a igreja renascentista, contemplar o anfiteatro de granito aninhado junto das muralhas, visualizar a torre de menagem, uma memória das primeiras histórias de Portugal, faz-nos sem dúvida, recuar no tempo e reviver os nossos antepassados medievais. 

Eu já conhecia Sortelha e confesso que fiquei triste por presenciar uma aldeia que apesar de se encontrar muito bem conservada, com os seus traços medievais, se encontrava vazia, sem a sua gente, sem a velhota vestida de preto e com a sua bengala e que me contou as lendas e as tradições da aldeia na minha adolescência, sem o velhote que metia conversa com os turistas, sem as crianças que brincavam na rua! 

Bem sei que passaram 30 anos da minha visita a Sortelha, mas  estas são as minhas memórias e mesmo apesar da aldeia ter mantido as suas raízes e os seus traços medievais, a velhota morreu e as crianças que agora são adultas, partiram em busca de outros horizontes.  


Deixando Sortelha para trás, continuamos o nosso caminho até Monsanto, considerada em 1938 a Aldeia mais Portuguesa de Portugal e em 1995 recebeu o título de Aldeia Histórica de Portugal. 



Monsanto
fica aninhada na encosta de uma elevação escarpada, o cabeço de Monsanto, uma "ilha" de penedos de granito que marca  a geografia da região, em que o ponto mais elevado atinge 758 metros. No sopé do monte consegue encontrar vestígios arqueológicos que remontam à época românica. Há quem chame a aldeia dos Flintstones, e olhem que parece mesmo, algumas casas parece que foram construídas na Idade da Pedra. 





Monsanto conseguiu preservar a sua identidade, contada através de gigantes penedos que se encontram por toda a aldeia e sobem até ao altaneiro castelo. Mais uma aldeia recheada de lendas e tradições. 


Assim que chegamos à aldeia percebemos que é bastante popular, com um aglomerado de turistas a percorrer as pequenas ruelas por entre casas de granito, com varandas cobertas de bonitas flores. As casas têm nomes e são construídas em complemento de gigantescos penedos de granito. A melhor forma de conhecer esta aldeia é calcorreando as pequenas ruelas de forma a poder contemplar todas os pequenos recantos que tem para nos oferecer. É verdadeiramente mágico!

Não deixe de observar a Torre do Lucano ou do Relógio, que exibe no topo a réplica do Galo de Prata, que Monsanto ganhou quando foi distinguida na época do Estado Novo, como a Aldeia mais Portuguesa.





 

 Logo na entrada da aldeia pode encontrar a igreja matriz, a Igreja de São Salvador com uma rosácea na fachada principal e elementos manuelinos nas fachadas laterais. 


A aldeia divide-se em duas zonas: a zona mais baixa onde se encontra o casario e todo o comércio e a zona mais alta onde se encontra o Castelo Templário Medieval, as ruínas da Torre de Menagem e uma igreja pequenina, a Capela de Santa Maria do Castelo, do séc XVIII, que foi remodelada no séc XIX e restaurada em 1940 e onde ainda hoje se fazem algumas comemorações.

Fizemos uma paragem no Miradouro da Praça dos Canhões onde podemos contemplar uma magnífica paisagem beirã e tiramos uma excelente fotografia. É um bom ponto de partida para descobrir os encantos de Monsanto.




Paramos num pequeno estabelecimento comercial de venda de produtos regionais e degustamos um licor de cereja e ouvimos a história que a proprietária nos contou sobre uma das tradições desta aldeia que ainda se mantém nos dias de hoje. 
Nos primeiros três dias de Maio decorre uma recriação medieval,  as Festas da Divina Santa Cruz, onde existe um torneio de armas e um desfile de mulheres que levam as tradicionais bonecas de trapos, as marafonas e se deslocam a pé até ao castelo.  Do cimo do castelo as senhoras entornam cântaros de flores, simbolizando a bezerra. A festa significa a resistência do povo que se encontrava no castelo e uma estratégia que fez afastar os invasores, árabes e romanos. Do alto do castelo era atirada comida para baixo das muralhas, uma forma de dizerem aos invasores que ainda tinham muita comida e por isso mantinham-se ali cercados. Foi uma técnica muito bem concebida levando os invasores a desistirem e retirarem-se. 


Saindo do café subimos a caminho do castelo, passando por uma Gruta, formada por dois enormes penedos, que foi usada como abrigo de pastores, mas também foi usada para abrigar os porcos que ficavam protegidos das intempéries. 

Passamos pela casa que parece ser dos Flintstones, afim de ter o privilégio de ficar encantados com a paisagem e continuamos na nossa subida ingreme até ao castelo, mas  confesso que o cansaço já estava acumulado e a meio da subida desisti e voltei para trás.  O Homem seguiu-me triste e um pouco frustrado de não ter subido ao alto do castelo.  Ficará certamente para outras núpcias, com a certeza de um dia voltar a Monsanto.






A 15 km de Monsanto localiza-se Idanha-a-Velha, outra aldeia histórica de Portugal que merece uma visita, com muitas histórias para contar a cada canto da aldeia. Tem um enorme realce nas estações arqueológicas do país pelo conjunto de ruínas romanas que ali existem.

Diz-se que outrora existia aqui uma cidade romana no séc I a.C, tendo sido ocupada por muçulmanos no séc VIII e reconquistada pelos cristãos no séc XII. No séc XIX ficou desertificada, com muitas casas abandonadas e tornou-se anexa a Idanha-a-Nova. Atualmente com o aumento do turismo, algumas casas estão a ser recuperadas e foram criados alguns postos de trabalho ligados ao turismo.

Destacamos uma visita pela Sé Catedral, pelas ruínas romanas, pelo Lagar das Varas, de Azeite, que infelizmente se encontrava encerrado e não conseguimos fazer a visita. A melhor forma de visitar esta aldeia é calcorreando as suas ruelas.





Continuando o nosso caminho, fomos visitar a nossa última Aldeia Histórica de Portugal, Castelo Novo em plena alma da Serra da Gardunha, com um património arquitetónico único. 

Esta aldeia começou por pertencer à Ordem dos Templários, seguida da Ordem de Cristo de forma a assegurarem a posse dos domínios conquistados aos muçulmanos no séc XIII. É uma aldeia com traços medievais, do período manuelino e barroco, um dos exemplos, é o conjunto arquitetónico do Largo do Pelourinho, Casa da Câmara, Cadeia e Pelourinho da ápoca manuelina e o Chafariz D João V da época barroca.

A população estendeu-se pela encosta da Serra da Gardunha, com o seu altaneiro Castelo a 650 metros de altitude e com as suas muralhas em ruínas. É como fazer uma viagem ao passado!

A arquitetura das casas é bastante atraente, de granito, coloridas, com as suas janelas manuelinas e nas caleiras, corre água que vem das nascentes e que levam a água para as culturas de Casal Novo. Existem poucas pessoas que habitam a aldeia diariamente, estando mais virada para o turismo, com as suas casas bem recuperadas. 
Destacamos uma visita à Igreja Matriz, ao Castelo, à Calçada Romana e ao Cabeço da Forca, que são dois blocos em granito onde ficava a forca. 



Deixando para trás as Aldeias Históricas de Portugal com a certeza de voltar a visitar Marialva e Monsanto, sem dúvida para nós, as melhores aldeias, pelas suas histórias, pelas suas gentes, pelas suas paisagens envolventes. 

Seguimos pela autoestrada A23 em direção a Lisboa. O Homem queria fazer uma paragem extra para contemplar as vistas das curvas do Zézere, mas devido ao adiantado da hora, aceitou o meu conselho e decidimos que ficaria para outro caminho arrufado. 


Já perto da hora do jantar, fizemos uma paragem no nosso melhor restaurante, que eu aconselho vivamente, o "Panturras", um restaurante em Advagar, concelho de Santarém, que tem uma comida caseira, a um preço muito simpático. Aqui pode degustar o verdadeiro borrego, criado pelos próprios donos do restaurante, com um sabor suculento seja ele grelhado ou no forno, acompanhado duma salada e batata frita ou no forno, tudo muito bem regado com o vinho da casa, da Adega de Alcanhões. Pode ainda apreciar o silêncio do telemóvel, tendo em conta que não existe rede de nenhuma operadora no restaurante. 










Está na hora de voltar para casa ou não fosse o outro dia, um dia de trabalho! Seguindo pela autoestrada - A1 e A8 regressamos a São Domingos de Rana, com o coração cheio de maravilhosas paisagens e tantas histórias para contar. 




"A maior aventura de um ser humano é viajar,
E a maior viagem que alguém pode empreender
É para dentro de si mesmo.
E o modo mais emocionante de realizá-la é ler um livro,
Pois um livro revela que a vida é o maior de todos os livros,
Mas é pouco útil para quem não souber ler nas entrelinhas
E descobrir o que as palavras não disseram..."

Augusto Cury


2 comentários:

  1. Muito bem descrita a tua aventura, obrigada pela partilha

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  2. Obrigada pelo comentário. Em breve mais uma aventura para terminar a Nacional 2. Fique atenta se quiser ;

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