GUIA TURÍSTICO PARA OS AMANTES DE CAMINHADAS E DE ADRENALINA NOS PASSADIÇOS DO PAIVA
(Roteiro de 1 Dia)
Os Passadiços do Paiva localizam-se no Concelho de Arouca, Distrito de Aveiro, a cerca de 14 quilómetros da vila de Arouca, na margem esquerda do Rio Paiva, uns passadiços pedonais em madeira, com cerca de 8,7 quilómetros. Podem ser iniciados em Espiunca, ou Areinho. Com a construção da Ponte Suspensa 516 o percurso também pode ser iniciado através de Alvarenga. Está localizado no Arouca Geopark, reconhecido pela UNESCO como património geológico da humanidade e foi inaugurado em Junho de 2015. A fim de evitar grandes multidões o percurso está limitado a 2000 pessoas por dia.
Despertador para as 3h30 da manhã com saída de Lisboa às 4h00. Quando programamos um passeio já estou habituada, a que o Homem se levante de madrugada, diz ele, que é uma forma de aproveitar o dia ao máximo e lá vamos nós sempre com a nossa geleira elétrica, que nunca nos deixa ficar mal. Seguimos pela A1 até Estarreja, continuando pela N224 até Arouca, onde o Homem como sempre, parou numa rotunda para tirar uma fotografia, que como ele sempre diz: o que fica para a história é a fotografia, multas pagam-se!
A melhor altura para visitar os passadiços é no final da Primavera ou início do Outono, ainda com temperaturas amenas e poder contemplar uma maior caudal no rio e na Cascata das Aguieiras. A Primavera tem o seu encanto, pelas paisagens que podemos encontrar, com as mais variadas flores a desabrochar e com temperaturas mais baixas do que no Verão. No Outono temos o prazer de contemplar a paisagem com vários tons de laranja, castanho, amarelo, tornando-se simplesmente mágico. No Inverno as temperaturas podem ser muito baixas e chover, o que torna o piso escorregadio e perigoso. No Verão, os dias são maiores o que nos permite aproveitar de uma forma exaustiva o passeio e dar um mergulho numa das praias fluviais, no entanto, pode ficar privado da majestosa Cascata das Aguieiras.
O nosso conselho é marcar a visita à ponte suspensa o mais cedo possível, para evitar um maior fluxo de pessoas e temperaturas mais elevadas. Nós fizemos o nosso percurso em Junho e marcamos a travessia da ponte para as 8h30 da manhã, a primeira travessia da manhã. Assim evitávamos muita gente e temperaturas mais altas. Compramos os bilhetes com antecedência e o valor são 12€ por pessoa com acesso aos passadiços. Se só tiver interesse em fazer o percurso pedestre dos passadiços o valor são apenas 2€ por pessoa.
Conselhos:
- O percurso dos passadiços não é muito exigente e embora possa encontrar algumas sombras pelo caminho, o melhor é ir o mais cedo possível para evitar temperaturas mais elevadas.
- Leve muita água e alguma coisa para comer, se pretender fazer um picinic na praia fluvial do Vau. Aqui pode encontrar um café e casas de banho, mas que normalmente só está aberto aos fins de semana e se tiver tanta sorte como nós, estava fechado pois tinha caído uma árvore, partindo o cabo que fornecia eletricidade ao café.
- Existem telefones SOS, tipo os que existem nas autoestradas em vários pontos dos passadiços.
- Leve roupa fresca, calçado confortável e fato de banho se for Verão. Vai certamente ter vontade de ir dar um mergulho na Praia Fluvial do Vau.
O dia não estava maravilhoso, com algumas nuvens e por vezes parecia que ia chover. Chegamos à Praia Fluvial do Areinho antes das 8 horas. Aqui encontra um parque de estacionamento junto da praia, mas atenção que enche rápido. Quando regressámos do nosso passeio já estava completamente cheio e até encontramos carros estacionados na berma da estrada.
Tomamos o nosso pequeno almoço, um pão de leite com queijo e um café do nosso termo, que ainda se encontrava quente e de mochila às costas (o Homem, eu de mãos a abanar), partimos no quilómetro zero para uma caminhada de quase 10 quilómetros no total.
Poucos metros mais à frente, depois de atravessar a estrada regional, onde se encontra a ponte de alvarenga, construída no séc XVIII, sobre duas rochas de granito, aproveitando a estreita garganta do rio Paiva aí existente. Situa-se entre Arouca e Alvarenga, fomos confrontados com uma subida intensa, vertiginosa de vários lances de escadas, com muitosss degraus, cerca de 538, que não leva mais do que 30 minutos. Com um desnível de aproximadamente 200 metros mas que se for feita com muito calor, pode ser penosa.
Com os minutos a passar, com esta subida intensa e hora marcada para a ponte, eu comecei a stressar e a refilar com o Homem, dizendo que íamos chegar atrasados e já não conseguíamos atravessar a ponte e que esta seria a última vez que iria fazer um percurso pedestre com ele. O Homem com a sua calma, deixou-me refilar e espernear e claro que ele tinha razão, eu só me cansei mais e chegamos mais que a tempo à ponte.
Aliás fomos os primeiros e eu, fui mesmo a primeira a pisar a grelha metálica, tipo "gradil" da ponte.
Se não tiver interesse em fazer a travessia da 516 ponte Arouca e só quiser fazer o percurso pedestre nos Passadiços do Paiva, apenas num sentido, deve iniciar no Areinho.
Aqui apenas encontra uma subida no início com cerca de 538 degraus, o caminho que se segue nos passadiços, é sempre no sentido descendente e junto às margens do rio Paiva a servir de cenário perfeito para uma fotografia. Ao chegar a Espiunca, pode voltar de táxi ou de jipe (aproximadamente 15€). Nós voltamos de jipe que para mim foi muito mais interessante e o condutor foi extremamente simpático e manteve uma conversa muito agradável com o Homem.
Se pretender fazer ida e volta, são 17 quilómetros e deve iniciar em Espiunca, tornando-se mais fácil o percurso.
A
516Ponte Arouca neste momento é a terceira maior ponte suspensa do mundo, a primeira é na República Checa e a segunda é em Espanha. Foi inaugurada em Abril de 2021 e chegou a ser a maior ponte suspensa do mundo, com um comprimento de 516 metros. Atravessa o Rio Paiva e o seu ponto mais alto fica a 175 metros de altitude relativamente ao rio e a cerca de 400 metros a nível médio da água do mar. É composta por 127 tabuleiros unidos entre si de gradil metálico de 4 metros de comprimento e 1,2 metros de largura. Normalmente é possível permanecerem no tabuleiro da ponte cerca de 70 pessoas em simultâneo, cerca de 35 com início do percurso em Alvarenga e 35 com início do percurso no Areinho.
Os passadiços encontram-se sempre na margem esquerda do rio, como tal, quem atravessar a ponte vindo do Areinho tem de fazer a travessia ida e volta. Quem iniciar o percurso vindo de Alvarenga apenas tem de fazer a travessia uma vez, que para quem tem vertigens, é a melhor opção.
Atravessar a ponte não é para todos, é uma sensação de adrenalina, é sem dúvida testarmos os nossos limites. Atenção aos doentes cardíacos e a quem tem medo de alturas, que é o caso do Homem, que estava apavorado. Confesso, que pensei que ele fosse desistir, mas ele não é de desistir e lá passou a ponte, devagar, muito devagarinho e agarrado aos pilares.
O guia chegou a contar-nos que na maioria das vezes os homens armam-se em corajosos, mas ao fim de poucos metros desistem mais facilmente que as mulheres.
Também nos contou, que desde a inauguração da ponte apenas uma senhora teve um ataque de pânico no meio da travessia e a única forma de a tirarem da plataforma, foi de cadeira de rodas.
Nesta travessia da ponte tem a oportunidade de observar a "garganta do paiva", o troço em que o rio se encaixa em canhão no
Granito de Alvarenga, ficar maravilhado pelas belas paisagens sobre o rio e contemplar a
Cascata das Aguieiras. Esta cascata aproveitou uma fratura na rocha de granito do Alvarenga e encaixou-se, caindo vertiginosamente sobre as escarpas que ladeiam o rio Paiva.
Deixando a ponte para trás, voltamos aos passadiços, descendo alguns degraus até a uma plataforma plana de madeira.
A partir deste momento, são cerca de 7 quilómetros num percurso sempre descendente, sem altimetria, junto da natureza em estado puro, do chilrear dos passarinhos e do som da água a correr no rio. Tivemos sorte de haver poucas pessoas a circular nos passadiços, o que tornou o nosso passeio muito mais agradável.
O rio Paiva é um dos mais belos e conservados rios de Portugal, com 108 km de extensão. A garganta do Paiva é onde o leito do rio se torna mais estreito e mais enfurecido e prolonga-se desde a ponte de Alvarenga até ao Vau. É nesta zona do rio, para os amantes do desporto de aventura, que pode fazer rafting, um desporto que exige coordenação, espirito de equipa, força e destreza, mas principalmente coragem e muita adrenalina. Descer um rio num barco pneumático não é para todos. Nós infelizmente não vimos ninguém a praticar este desporto, talvez pelo pouco caudal do rio. Chegando à Praia Fluvial do Vau, mesmo apesar do tempo não se encontrar brilhante com temperaturas que rondavam os 20ºC, fui dar banho à Vanessa (como o Homem costuma dizer) e a água estava quase à mesma temperatura ambiente. Foi neste contexto que comemos uns folhados que tinha trazido de casa, mas bebemos água. O café encontrava-se fechado pelo problema da eletricidade e não conseguimos comprar uma cervejinha, que teve de ficar para a chegada a Espiunca.
Nesta zona encontramos uma pequena ponte de arame, suspensa, que permite ligar as duas margens do rio. Atravessámos a ponte, o que confesso que depois da outra, esta é para meninos, isto é, muito fácil de atravessar e com uma agradável visão sobre o rio e a natureza. Tem sempre de voltar para trás, pois os passadiços são sempre pela margem esquerda do rio.
O percurso dos passadiços terminam em Espiunca e foi aqui que nos deliciamos com uma cervejinha bem fresca, com vista sobre o Paiva. Aqui também pode usufruir da Praia Fluvial de Espiunca. Nós não fomos, porque o tempo não estava convidativo. Regressamos de jipe até à Praia Fluvial do Areinho, onde tínhamos deixado o carro.
Com a hora de almoço a aproximar-se e uma breve passagem na Panorâmica do Detrelo da Malhada, um miradouro com uma vista fantástica sobre a Serra da Freita, um dos locais de visita obrigatório, que se não fosse a ventania fria que estava, tinha sido a nossa escolha para degustar da nossa refeição.
Fomos visitar as Pedras Broas do Junqueiro e escolhemos esse local para tirar a nossa geleira elétrica do carro e degustar da nossa refeição com a beleza da Serra da Freita a fazer-nos companhia.
De regresso ao carro, a poucos metros das Pedras Broas do Junqueiro, encontramos um rebanho de cabras e ovelhas mesmo no meio da estrada.
Claro está, que o Homem teve de parar o carro e tirar não uma, mas várias fotografias aos bichinhos e também ao pastor, um senhor humilde, simpático que manteve uma conversa muito agradável sobre os costumes da terra e deixou o Homem encantado com um comentário que lhe fez: "Você tem os ares da Freita".
O Homem, para quem não sabe, nasceu e foi criado numa aldeia Vale de Figueira, no concelho de Santarém e por conhecer os costumes e as lides da aldeia, sabe como falar com as gentes do campo.
Continuando o nosso caminho, fizemos uma paragem no Miradouro da Frecha da Mizarela, uma das maiores quedas de água (em altura) de Portugal, localizada na Serra da Freita, próximo de Albergaria da Serra.
O miradouro tem uma vista sublime desta cascata e aqui pode observar o granito da Serra da Freita, uma rocha mais dura e resistente à erosão fluvial, juntamente com um verde exuberante da natureza no seu ar mais primitivo desta Serra, são exemplo disso a Laurissilva, o Carvalho-alvarinho e o Carvalho-negral. O sistema de falhas que condiciona toda esta serra, pode ter contribuído para o encaixe do rio e para a formação deste desnível.
Pode contemplar a cascata apenas do miradouro, ou para os mais aventureiros e destemidos, descer a estrada mesmo ao lado do miradouro e seguir o trilho PR7. Este trilho é circular e é um troço à volta da aldeia de Albergaria da Serra. Seguindo este trilho, consegue encontrar outro, à esquerda, mais sinuoso, a descer, que o vai levar à cascata.
Nós não fizemos o trilho, por falta de tempo, mas por aquilo que lemos, é um trilho bastante exigente, que tem de ser feito com alguma perícia, principalmente nas descidas, onde por vezes é mesmo melhor descer de rabo para se equilibrar. Uma vez na cascata pode dar um mergulho nas suas águas translúcidas mas frias.
Deixando a beleza da Serra da Freita para trás, seguimos por estradas nacionais (o Homem prefere andar pelas nacionais, assim não gastamos portagens e temos o prazer de observar paisagens e costumes diferentes) até à cidade de Águeda.
Águeda, uma cidade com cerca de 1400 habitantes, no distrito de Aveiro, atravessada pelo rio Águeda serpenteando o seu casario por uma leve encosta, inserida numa amplo vale, de 31 metros de altitude.
Apresenta um grande património histórico e religioso, com as suas igrejas, capelas, cruzeiros, a ponte medieval sobre o Marnel e a Pateira de Fermentelos, a maior lagoa natural da Península Ibérica.
O município é conhecido pelo festival de artes, o
AgitÁgueda, um festival inaugurado em 2016, com animação musical e de artes urbanas, de forma a animar as noites de Verão.
Este festival teve muito sucesso e já foi vencedor de vários prémios, tendo celebrizado os chapéus de chuva coloridos, suspensos, a cobrir algumas das ruas mais importantes da cidade de Águeda, potenciando o turismo nesta cidade. Uma imagem de marca neste município.
Nós passeamos por algumas destas ruas, mas encontramos sempre os chapéus de chuva fechados. Acredito que abertos devem ter outro encanto.
A nossa viagem está quase a chegar ao fim e normalmente quando fazemos os nossos caminhos arrufados para Norte, vamos jantar a um dos nossos restaurantes preferidos,
"O Panturras" no concelho de Santarém, em Advagar. Penso que já vos falei deste restaurante, que faz parte dos Caminhos de Fátima.
Um espaço bastante simples, sem luxos, com gente simpática e um excelente atendimento. O preço é fixo por pessoa e neste momento são 12€ por pessoa com bebida, comida e sobremesa incluída. Aqui pode degustar de borrego no forno ou grelhado. Nós preferimos sempre grelhado, acompanhado de uma saladinha e batata frita e com um jarrinho de vinho da casa. No final colocam um tabuleiro com sobremesas, onde pode tirar quantas quiser, mas atenção às calorias. Gelados não têm!
O pagamento é feito no balcão e ainda pode comprar um pão cozido em forno a lenha e um saco de broas caseiras que são uma delícia. Aconselho a provar!!
Está na hora de voltar para casa e agora pela A1 e depois pela A5, dado ao adiantado da hora e algum cansaço acumulado, com mais uma história para contar e recordar.
"Sabe qual é o principal benefício de viajar?
É expandir a imaginação e a memória,
fazendo com que você seja capaz de viajar
sem nem mesmo precisar sair do lugar,
sempre que quiser, onde quiser
quantas vezes achar necessário
para ser ainda mais criativo, afetivo e feliz."
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