Escarpas do Douro

 

ROTEIRO TURISTICO PARA CONTEMPLAR OS PASSADIÇOS DA RIA DE AVEIRO E OS MIRADOUROS DO DOURO INTERNACIONAL


(Roteiro de 2 Dias)



A nossa historia começou com uma vontade imensa de percorrer os famosos Passadiços do Paiva, pela beleza, pela caminhada, pelo percurso pedestre. Infelizmente nem sempre é fácil planear um fim de semana para irmos passear, pois eu trabalho num Hospital e estou muitas vezes de prevenção.

Uma manhã de sábado de Janeiro de 2020 decidimos fazer o nosso percurso pedestre, a nossa caminhada, mas tivemos de mudar o destino. Os Passadiços do Paiva estavam encerrados para manutenção e limpeza devido aos estragos que o Inverno provocou durante o final de Dezembro.

Para quem já nos conhece, já sabe que o Homem tem sempre hora de saída, normalmente de madrugada, de forma a aproveitar ao máximo o dia e nem sempre temos hora, nem dia de chegada.

Com os passadiços encerrados, foi altura de alterar o nosso caminho e decidimos percorrer os também conhecidos Passadiços da Ria de Aveiro. 



1º Dia – Lisboa, Aveiro, São Jacinto, Pinhão, Miranda do Douro (700 km)


Saída de Lisboa de madrugada, confesso que já não me recordo da hora exata, com chegada a Aveiro perto das 10 horas.  (A8, A17). Os Passadiços de Aveiro são totalmente planos, com várias zonas de descanso e sem grau de dificuldade, o que pode ser facilmente realizado a pé ou de bicicleta. Tendo em conta tudo o que lemos sobre a paisagem natural que envolve a Ria de Aveiro pensamos por fazer este percurso de bicicleta. Uma vez em Aveiro foi altura de procurarmos as conhecidas bicicletas, as BUGAs que se encontram no centro da cidade e que facilmente se alugam, ou não, não foi o nosso caso. Quando lá chegamos não havia nem uma e o senhor que lá se encontrava no local de aluguer disse que agora só de tarde. Na minha opinião, ou na nossa opinião, uma vergonha! Uma cidade universitária, com tantos jovens e afluência turística, é de lamentar que às 10h da manhã não existisse uma única bicicleta no coração de Aveiro. Criticamos ainda a falta de visão da Câmara de Aveiro não ter um ponto de bicicletas no inicio dos Passadiços da Ria de Aveiro. Acreditamos que seria uma mais valia para a cidade e os passadiços. 

Novamente alteração de planos e fomos fazer os Passadiços da Ria de Aveiro a pé. Os passadiços foram inaugurados em 2018, com uma extensão de 7,5 km. Têm inicio no Canal de São Roque e terminam em Vilarinho, quase sempre com a Ria de Aveiro aos seus pés. Nós aconselhamos a iniciar o percurso no Cais da Ribeira de Esgueira, com estacionamento disponível e gratuito e poupa pouco mais de 2 km, pois esse percurso é sempre junto da estrada e a beleza não é o seu melhor. Tem algum interesse em fazer o percurso ida e volta pois a fauna e a flora vai sendo diferente com a mudança da maré. Para quem não gosta de andar pode sempre apanhar um táxi em Vilarinho e regressar a Aveiro. Nós tentamos, mas não vimos nem táxis, nem nenhum contacto para ligar, nem vimos quase ninguém da terra, apenas uma roulotte com bebidas frescas e algum fast food. O senhor da roulotte não tinha o contacto de nenhum táxi, e assim seguimos o nosso caminho para o centro de Vilarinho, com esperança de encontrar o dito cujo transporte, táxi nem vê-lo, apenas encontramos umas senhoras locais, não muito simpáticas a conversar que também não nos sabiam informar de nenhum contacto.

Lá tivemos de fazer o track back! Não foi assim tão mal porque serviu para queimar as calorias do Natal, mas confesso que depois do que tinha lido sobre estes passadiços e a sua beleza envolvente, para nós foi uma desilusão. 


De volta à estrada o Homem surpreendeu-me com um passeio de carro sempre junto à Ria de Aveiro até São Jacinto, pela N-327. 

Passadiços de Aveiro?? Mil vezes este percurso de carro, que também pode ser realizado de bicicleta, visto serem pouco mais de 17 km desde a ponte que passa sobre a Ria de Aveiro até São Jacinto. É de uma beleza impar e aconselho a quem visitar a cidade de Aveiro a incluir este percurso magnífico. 

Depois de um almoço rápido no MacDonalds, por volta das 15 horas o Homem lá tirou uma carta à Pai Natal e deu-me um bombom, sugeriu um pequeno desvio, cerca de 200 km a mais, isso foi o que ele disse para me convencer a ir visitar os mais belos Miradouros do Douro Internacional, com uma pequena paragem no Pinhão. Isto porque eu adoro essa zona do Douro Vinhateiro. Nem eu, nem ele imaginávamos a beleza natural que nos esperava no Douro Internacional. 

Na realidade foram pouco mais de 300 km seguindo pela A25 e depois pela A24 até ao Peso da Régua, continuando pela N222 até ao Pinhão, onde paramos para esticar as pernas e abastecer de moscatel caseiro, que confesso que já foi melhor, ou serei eu que estou mais exigente? 



Saindo do Pinhão, seguimos já de noite pela N322-3, seguida pela N212, umas estradas sinuosas, no meio dos montes, dizem que é de uma beleza de cortar a respiração, mas nós não vimos nada, até desembocar no IC5 com chegada a Miranda do Douro na hora do jantar. Ficamos alojados no Hotel D João III, um hotel simpático, mas tendo em conta o frio que estava, o aquecimento nos quartos não era o mais adequado, assim como a temperatura da água que devia ser mais agradável, uma vez que nos encontrávamos  em pleno Inverno e com uma temperatura exterior negativa. O melhor dessa noite foi sem dúvida o repasto merecido num restaurante típico da cidade, o Mirandês, que deixo em destaque o bacalhau à casa e a posta mirandesa, de comer e chorar por mais, já para não falar do vinho tinto da casa, produzido na região, servido em jarro mas com um sabor amadeirado, bastante aromático. 


2º Dia – Miranda do Douro, Miradouros do Douro Internacional, Vila Velha de Rodão, Lisboa                                                                             (700 km)




Miranda do Douro pertence ao Parque Natural do Douro Internacional em que o Rio Douro serpenteia entre montanhas e vales escarpados, servindo de fronteira entre Portugal e Espanha.

 

Depois de um belo pequeno almoço regional, deparamo-nos com o carro totalmente congelado e tivemos que deitar água nos vidros para ser possível regressarmos à estrada e ir visitar a cidade de Miranda do Douro. Possivelmente só nós tínhamos frio, pois assim que chegamos ao centro da cidade coberta de gelo, cruzamo-nos com ciclistas, que apesar de serem 8 horas da manhã e uma temperatura de -3ºC, faziam o seu percurso com um sorriso nos lábios. Haja Homens Rijos!!!


Miranda é uma cidade que pertence ao distrito de Bragança, pequena, circular, que por mais voltas que dessemos chegávamos sempre ao mesmo local. É banhada pelo Rio Fresno e Rio Douro, numa região montanhosa com paisagens arrebatadoras. É uma cidade de tradições, com as suas influencias Romanas, com os Pauliteiros de Miranda, uma dança de folclore que era dançada com paus e uma língua muito própria que ainda hoje se ouve, o mirandês. No centro existe a sua antiga Sé, a Igreja de Santa Maria Maior, edificada no séc XVI e as ruínas do Castelo de Miranda. 



A gastronomia é uma riqueza em Miranda do Douro e deixo em destaque a posta mirandesa, o folar de carnes e a bola doce mirandesa, que infelizmente não provamos. 

Miranda é uma cidade de uma beleza constante, pela arquitetura das casas, pelas ruas, pelo rio aos seus pés, onde no verão é possível marcar uns passeios de barco. Nós não fizemos porque fomos no Inverno, mas um dia voltarei a Miranda para ver a beleza da cidade durante o Verão. (Veja no site Corazon de las Arribes e site da naturisnor). Todos os pequenos recantos desta cidade parecem miradouros, com o Rio Douro e as montanhas a servirem de cenário para a fotografia perfeita.


Antes de abandonarmos Miranda do Douro fomos conhecer o seu miradouro, que se encontra por trás da Sé Catedral e que nos permite observar Espanha do outro lado do rio. É aqui que pode encontrar nas encostas escarpadas o "2", nós não vimos nada. Sem dúvida de uma beleza impar. Saindo de Miranda está na hora de conhecer os mais belos Miradouros do Douro  Internacional.




O primeiro miradouro foi o Miradouro de São João das Arribas, a 8 km de Miranda do Douro, um miradouro muito natural, em estado selvagem, numa estrada de terra batida que temos de percorrer a pé durante alguns metros. Cuidado com as vertigens, pois para conseguir contemplar a beleza do rio a correr numa garganta é necessário esticar-se em cima da rocha, muito perto da ravina.


Através da estrada N221 encontramos o Miradouro da Freixiosa a cerca de 1 km numa estrada de terra batida da aldeia com o mesmo nome, é um miradouro que apenas tem um gradeamento de ferro no ponto mais alto da pedra, que serve para o visitante se apoiar e não cair. É um miradouro que quase não tem a mão do homem e que ainda se encontra com a sua vegetação natural, com o predomínio do granito. As vistas são soberbas!



O nosso "ex libris" desta viagem foi o Miradouro da Fraga do Puio, que fica perto da aldeia do Picote, uma aldeia recheada de tradições e histórias. Os aldeões contam uma história que na Idade do Ferro, no primeiro milénio antes de Cristo, um castro se instalou na Fraga do Puio e ainda hoje existe uma figura de um arqueiro desenhada nas rochas, é só procurar no chão do miradouro. Ainda hoje são preservadas as tradições nesta aldeia, como é o caso das placas com as mais variadas informações em bilingue, com a língua mirandesa em destaque.


Este miradouro tem fácil acesso de carro e é o mais acessível de todos os miradouros que visitamos. Recebeu obras de beneficiação, acrescentando uma plataforma de chão de vidro que aconselho a quem tem vertigens a não se deslocar por cima dele, é uma paisagem deslumbrante, mas chega a ser assustador.

Não deixe a aldeia de Picote sem visitar o Miradouro da Barragem de Picote, não tem necessariamente de ir até junto da barragem, pode apreciar toda a paisagem envolvente das vistas do seu miradouro.



A próxima paragem foi no Miradouro do Carrascalinho, localizado entre Lagoaça e Fornos. Este miradouro é mais um com uma vista soberba para o Rio Douro. É constituído por um gradeamento de ferro e várias pedras de granito, onde nos permite tirar umas belíssimas fotografias. 

Continuando na estrada N221 até o Mazouco podemos encontrar o Miradouro do Colado, um dos miradouros mais bonitos do Douro Internacional. Do alto do miradouro é possível contemplar a aldeia do Mazouco com o Rio Douro a servir de cenário principal.


A nossa próxima paragem foi no Miradouro do Penedo Durão, de fácil acesso, com estacionamento gratuito muito próximo do miradouro. É o local ideal para fazer um piquenique pois existem várias mesas de madeira dispersas ao longo deste miradouro, pode também observar toda a avifauna do parque natural, como é o caso do Grifo, da Águia Real, do Abutre do Egipto, da Cegonha Negra. Se permanecer uns minutos em silencio neste miradouro, pode ser presenteado pelo voo majestoso de uma dessas aves. É simplesmente mágico! 



Este é o último miradouro do Douro Internacional, foram 112quilometros partilhados entre Portugal e Espanha. Deixando para trás Espanha, o Douro continua o seu percurso em direção ao Pinhão, Régua, Porto e dando origem ao Douro Vinhateiro com os seus socalcos com várias vinhas. Uma paisagem diferente mas também avassaladora. 

O Douro Internacional foi para nós uma agradável surpresa, com as suas montanhas escarpadas, com uma vegetação quase inexistente e uma garganta onde corre o Rio Douro. Ficamos deslumbrados, apaixonados por imensa beleza que o nosso Portugal tem para nos oferecer. É sem dúvida uma viagem que aconselho a realizar.

Deixando os miradouros para trás o Homem tinha mais um destino pensado para terminar o dia em beleza, visitar Vila Velha de Rodão, onde o Tejo é afunilado entre dois montes da Serra das Talhadas, as Portas de Rodão. Uma vista impar, lindíssima, que transmite tranquilidade e paz, diferente da beleza do Douro Internacional mas não menos imponente. A nossa última paragem antes de regressar a Lisboa foi no Castelo  de Vila Velha de Rodão, com uma vista privilegiada para o afunilamento do Tejo, que o meu Homem tanto venera, ou não fosse ele de Santarém. 



Regressamos a Lisboa pela A23 com mais uma experiência, mais uma história para contar e para recordar, pois a vida é feita de pequenos , grandes momentos e somos nós, os viajantes que somos os atores principais...

Como tal,

A vida é uma viagem com três estações:

Ação

Experiência

Recordação

Este foi só o inicio da nossa história...




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